(Edvard Munch 1863-1944)
TÉDIO
Cinco horas
Menos dez minutos
Duma tarde chuvosa
De Março
(A Primavera começou ontem…
… No calendário).
[…].
Cinco horas em ponto.
O sino do relógio da Sé
Bate-me em cheio na cabeça
Suas sonoras badaladas,
Marteladas e compassadas. […].
A chuva continua
A riscar o espaço vazio
E a cair sonoramente
Em grossas bátegas
Sobre o basalto
Da rua.
Rua molhada,
Rua lavada,
Rua povoada
De guarda-chuvas
Pretos como o carvão
Que ainda mais entristecem
Meu pobre coração.
Mas que será isto
Que eu sinto hoje?
Que estado de alma
Pode ser este
Que parece nojo
E me faz perder a calma?
Ah! Parece que já sei:
É o tédio. […].
Borges dos Santos,
Tempo do mar,
Ed. do autor, Lisboa, 1959.
Santos, Alberto Borges dos (1920-2002), professor, técnico de Biblioteca e Arquivo, articulista, natural da Praia da Vitória, ilha Terceira, residiu e trabalhou nas cidades de Angra do Heroísmo, Torres Novas e Lisboa, tendo falecido na freguesia de Algés, Oeiras.