Jeanne Moreau e Miles Davis — nos tempos de

1 Ago 2017 1:52

Se o cinema francês é uma ideia, poucas actrizes (ou actores) a podem simbolizar como Jeanne Moreau. Não que ela não tivesse filmado fora do seu país natal. O certo é que, desde a formação teatral, passando pelo envolvimento com as convulsões da Nova Vaga, Moreau deixou um legado indissociável dos temas e do imaginário da França.

No momento em que sabemos do seu falecimento, aos 89 anos de idade, eis um quinteto de memórias para a revermos nas paisagens do seu imenso talento.
* FIM DE SEMANA NO ASCENSOR (1958) — É de elementar justiça relembrar que o nome de Louis Malle não pode ser separado das atribulações estéticas e culturais que estão na base da Nova Vaga. No caso deste filme emblemático, Jeanne Moreau vive, com Maurice Ronet, um melodrama em forma de "thriller" — com uma banda sonora composta e interpretada por Miles Davis.
* A NOITE (1961) — A lendária "trilogia a preto e branco" de Michelangelo Antonioni começou com "A Aventura" (1960) e terminou com "O Eclipse" (1962), tendo este título como o prodigioso e, por vezes, muito esquecido "filme do meio". Contracenando com Marcello Mastroianni e Monica Vitti, Moreau encarna esse misto de angústia e tédio que o cineasta italiano expõe no coração da sociedade de consumo.


* A GRANDE PECADORA (1963) —
Importa voltar a dizer que o nome de Jacques Demy, sempre entre melodrama e musical, constitui uma referência essencial da Nova Vaga. A zona da Baie des Anges, em Nice (título original: "La Baie des Anges), é o cenário, de uma só vez realista e mágico em que o jogo do amor escapa a todas as regras do jogo — a actriz contracena com o sempre enigmático Claude Mann, actor muito esquecido que, em 1975, rodaria "India Song", sob a direcção de Marguerite Duras.

* O GRANDE MAGNATE (1976) — Quase todas as notícias sobre a recente adaptação televisiva de "The Last Tycoon", o romance inacabado de F. Scott Fitzgerald, omitem o facto de existir esta belíssima versão de Elia Kazan (seria o seu derradeiro filme) — uma visão íntima e desencantada da idade de ouro de Hollywood, em que Moreau integra um elenco liderado por Robert De Niro, incluindo, entre outros, Tony Curtis, Robert Mitchum, Jack Nicholson e Ingrid Boulting.
* O TEMPO QUE RESTA (2005) — Melvil Poupaud interpreta um homem gay que sabe que tem uma doença terminal à qual não sobreviverá mais que uns poucos meses. Jeanne Moreau surge como a sua avó e confidente, num registo de delicados afectos e emoções, por certo dos mais elaborados e perturbantes de toda a filmografia do seu realizador, François Ozon.

  • cinemaxeditor
  • 1 Ago 2017 1:52

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