Brad Pitt liderando o grupo de


joao lopes
23 Out 2014 1:53

Será que existem fórmulas interessantes para renovar o clássico filme de guerra? Mais especificamente: como abordar os combates da Segunda Guerra Mundial para além dos modelos tradicionais de figuração e narrativa que, de facto, correspondem à sensibilidade das décadas de 40/50?

Digamos que "Fúria", escrito e dirigido por David Ayer, longe de conter uma resposta únivoca ou definitiva, envolve um leque de possibilidades que confirmam um dado sensível em produções recentes, não necessariamente de origem americana — é o caso de "Lore" (2012), de Cate Shortland, ou "Ida" (2013), de Pawel Pawlikowski. A saber: é possível repor um realismo, frio e desencantado, que liberte a história dos determinismos do heroísmo clássico.
Que se trate de um filme dominado pela figura de Brad Pitt — liderando um grupo de soldados que, num tanque chamado "Fúria", avançam pelo território alemão em Abril de 1945 —, eis o que não será indiferente para a projecção emocional do espectador nem, como é óbvio, para as condições de promoçãodo próprio filme. Em todo o caso, o actor não impõe o seu efeito de estrela, já que esta é, acima de tudo, uma odisseia sobre a lógica e o funcionamento de um grupo.
Mesmo com cenas de consistência irregular, Ayer consegue libertar o seu filme da "obrigação" de acumular situações (ditas) de acção, explorando antes o contraste que se vai estabelecendo entre a configuração idealista dos comportamentos das personagens e as evidências muito cruas das muitas formas de violência que enfrentam e protagonizam.
Há outra maneira de dizer isto que, em boa verdade, começou a ganhar consistência em 1998, quando Steven Spielberg dirigiu o emblemático "O Resgate do Soldado Ryan": a pulsão realista que regressou ao filme de guerra já não reconhece qualquer suplemento de grandiosidade nas peripécias dos combates, confrontando-nos antes com as cores frias do mais austero niilismo moral — as memórias de 1945 desembocam, assim, numa sensibilidade indissociável do nosso século XXI.

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