Denzel Washington no seu papel de vingador — cinema formatado e previsível


joao lopes
19 Jul 2018 18:03

Denzel Washington parece existir, ou melhor, expor-se numa espécie de esquizofrenia artística. Por um lado, conhecemo-lo e admiramo-lo como criador de objectos magníficos como "Vedações" (2016), filme que também realizou tendo como base a peça de August Wilson; por outro lado, ele é o protagonista de banais "filmes de acção" como este "The Equalizer 2: A Vingança" que agora chegou aos ecrãs.

É bem verdade que Washington tem a sua imagem de marca ligada a alguns bem interessantes registos policiais, incluindo "Dia de Treino" (2001), dirigido por Antoine Fuqua (o realizador dos dois "Equalizer") e, sobretudo, esse magnífico exercício de mise en scène que é "Homem em Fúria" (2004), porventura o melhor título de Tony Scott.
Resta saber, mesmo no mero plano da energia espectacular, o que resta de tudo isso neste "Equalizer 2"… Muito pouco, na verdade. A personagem de Robert McCall continua a ser uma espécie de "robin-dos-bosques" contemporâneo, fechado nos seus rituais quotidianos. O relançamento da sua história privada garante uma certa intimidade das primeiras cenas para, a pouco e pouco, triunfarem os formatos de um modelo que já nem sabe citar as nuances do thriller clássico.
A figura do jovem interpretrado por Ashton Sanders, talentoso actor que conhecemos de "Moonlight" (Barry Jenkins, 2016), sugere a curiosa hipótese de um diálogo geracional com evidentes relações simbólicas com o presente dos EUA. Mas não passa de um sinal ligeiro, um pouco à maneira dos soundbytes noticiosos… E o duelo final, com a personagem de Pedro Pascal, de tão pomposo e barulhento, descamba no mais embaraçoso ridículo.

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