Os criados de


joao lopes
21 Set 2019 23:53

Televisão? Cinema? Um filme que tenta "repetir" as componentes de uma série? Enfim, podemos encarar "Downton Abbey" a partir dos mais diversos ponto de vista, eventualmente (re)avaliando as muitas formas de contaminação que têm marcado as relações entre os ecrãs de todas as dimensões.

Em qualquer caso, a meu ver, a questão é bastante mais rudimentar. Seja qual for a visão (ou até o simples conhecimento) que tenhamos da série criada por Julian Fellowes, este "Downton Abbey" limita-se a assumir a linguagem cinematográfica como uma acumulação de pequenas anedotas (melo)dramáticas em que o luxo dos cenários e o decorativismo das paisagens são tratados, afinal, como um fim em si mesmo.
O ponto de partida não deixa de ser sugestivo: em 1927, cerca de um ano decorrido sobre os acontecimentos finais da sexta temporada da série, a mansão de Downton Abbey, senhores e criados unidos num mesmo êxtase, afadiga-se nos preparativos para uma visita do Rei Jorge V… Tanto basta para relançar uma espécie de passagem de modelos das classes sociais, com cada personagem a ser reduzida a um "cromo" de uma tendência "política", "familiar" ou "afectiva" — triste ideia de cinema…
Em boa verdade, já nem sequer há gosto pela acção enquanto duração (um valor que, convenhamos, muitas ficções televisivas têm sabido explorar com evidente felicidade): "Downton Abbey" é feito de situações tão esquemáticas quanto aceleradas (?), sem grandes preocupações de, no mínimo, valorizar a eventual complexidade emocional desta ou daquela personagem. Sintomático deste retórico tele-cinema: ficamos mesmo com a sensação que está tudo contado no trailer…

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