Bernardo Bertolucci: nome fulcral na história moderna do cinema europeu

8 Dez 2018 19:53

Foi há trinta anos que Bernardo Bertolucci (1941-2018) entrou na galeria dos Oscars. O seu filme “O Último Imperador” conseguiu nada mais nada menos que nove estatuetas douradas, incluindo as de melhor filme, melhor realizador e melhor argumento (isto sem esquecer que Bertolucci era também um dos argumentistas do seu filme épico). Mas importa lembrar que, antes desse sucesso, ele era já um nome fulcral da modernidade do cinema italiano e europeu.

Importa, sobretudo, lembrar filme matriz de toda a obra de Bertolucci: chama-se “Antes da Revolução”, foi lançado em 1964 e observa as convulsões de uma geração jovem num mundo em que todas as certezas estão a vacilar. Para Bertolucci essa é uma questão íntima que desemboca numa drama político — por alguma razão, ele fez filmes como “O Conformista” e “A Estratégia da Aranha”, ambos com data de 1970, que são frescos históricos sobre a Itália. Até que, em 1972, veio o filme maldito… Com esta melodia…



A música de Gato Barbieri poderia fazer pensar numa deambulação algo ligeira, porventura romântica. Mas não: “O Último Tango em Paris” era um requiem pelo fim do romantismo, pela solidão do homem moderno — envolvido em polémicas mais ou menos superficiais, passou muito tempo até que o filme começasse a ser visto na sua depuração formal e cepticismo moral, afinal os mesmos sinais que encontramos em 1981, em “A Tragédia de um Homem Ridículo”, ou 1990, em “Um Chá no Deserto”, este com uma inesquecível partitura de Ryuichi Sakamoto.


Bernardo Bertolucci foi, afinal, um cineasta do confronto entre o Velho e o Novo — confronto, não necessariamente conflito. Nessa perspectiva, o seu mais belo filme será “Os Sonhadores”, de 2003, uma evocação muito crua, e também muito poética, de Maio 68 — aí se cruzam todas as memórias possíveis e impossíveis, todas as ilusões e todas as utopias, desde as atribulações ideológicas até à voz de Françoise Hardy.

  • cinemaxeditor
  • 8 Dez 2018 19:53

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