Harry Belafonte e Dorothy Dandridge — sob o signo de Georges Bizet

7 Abr 2017 0:15

Vencedor dos Oscars referentes a 2016, "Moonlight", de Barry Jenkins, é um objecto cuja sensibilidade e humanismo na abordagem da comunidade afro-americana nos leva a (re)pensar em alguns momentos emblemáticos da história de Hollywood. Entenda-se: não se trata de distinguir os filmes apenas porque colocam em cena personagens da raça negra; trata-se, isso sim, de reconhecer como alguns desses filmes desafiaram muitos clichés brancos e negros.

Vale a pena colocarmo-nos sob o signo da música da "Carmen", de Georges Bizet, ópera em quatro actos, estreada em Paris, em Março de 1875. Quase oito décadas depois, mais exactamente em 1954, Otto Preminger realizava "Carmen Jones", uma variação sobre a ópera de Bizet cuja primeira particularidade era o facto de ser integralmente interpretada por actores afro-americanos.

Dorothy Dandridge e Harry Belafonte lideravam um notável colectivo de actores/cantores, recriando os temas da "Carmen" original — na origem do projecto estava um musical da Broadway passado no contexto de uma fábrica, com a Segunda Guerra Mundial em pano de fundo. Não era um típico musical, antes um melodrama em que, de acordo com a tradição, o drama se conta por música.


Mais de 60 anos decorridos sobre o seu lançamento, "Carmen Jones" é uma espécie de ovni no interior da história do musical de Hollywood e, ao mesmo tempo, um testemunho exemplar da ousadia de Otto Preminger — na dupla qualidade de produtor e realizador, ele é, afinal, um símbolo modelar da idade de ouro de Hollywood.

  • cinemaxeditor
  • 7 Abr 2017 0:15

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