joao lopes
11 Fev 2018 23:03

Apesar de ter sido exibido fora de competição, o filme "Visages Villages", de Agnès Varda e JR (artista plástico, fotógrafo e muralista que assina com essa sigla), foi um dos acontecimentos emblemáticos do último Festival de Cannes. Com o passar dos meses, transformou-se num fenómeno internacional, a ponto de surgir como grande favorito na lista de nomeados para o Oscar de melhor documentário.

Agora lançado entre nós com o título "Olhares Lugares", trata-se, de facto, de um objecto com enorme apelo universal, de tal modo nos devolve um misto de encanto e nostalgia pelos olhares e lugares de pessoas que, habitualmente, não são tema das imagens e sons que consumimos. Mais do que isso: de acordo com o título original, são rostos e aldeias de uma França onde ainda é possível encontrar modos de vida (e respectivos valores) que dispensam o stress urbano.
JR gosta de fotografar pessoas, ampliar os seus retratos e colá-los, literalmente, nas superfícies de suas casas — vimos isso, aliás, no documentário "Women Are Heroes" (2010) que ele próprio dirigiu. Neste caso, as suas imagens servem para uma celebração dos cenários rurais e respectivos habitantes, numa deambulação em que o cinema funciona, de uma só vez, como reportagem e reflexão íntima.
Na sua singeleza, "Olhares Lugares" sublinha e reforça a importância que o género documental foi adquirindo na última década no interior dos mercados de exibição. Acima de tudo, Varda e JR fazem o seu trabalho para além de qualquer naturalismo televisivo, recusando todas as ilusões espontaneístas — com eles, entre todos os olhares e lugares, o cinema é ainda a paisagem mais acolhedora.

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