Diana Cavallioti e Mircea Postelnicu: da intimidade em cenários romenos


joao lopes
17 Ago 2018 0:20

A propósito da estreia de "Ana, Meu Amor", vale a pena recordar que  que foi graças a dois títulos consagrados em Cannes que começámos a prestar especial atenção à produção da Roménia: "A Morte do Sr. Lazarescu", de Cristi Puiu, vencedor da secção ‘Un Certain Regard’ em 2005, e "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias", de Cristian Mungiu, consagrado com a Palma de Ouro de 2007 — estava-se, afinal, perante o nascimento de um novo realismo romeno.

Agora, com a estreia de "Ana, Meu Amor", de Calin Peter Netzer, o mínimo que se pode dizer é que essa pulsão realista continua bem viva. De tal modo que a história do par formado por Ana (Diana Cavallioti) e Toma (Mircea Postelnicu) — desde o namoro em tempos universitários até às convulsões da vida conjugal — funciona num duplo registo: uma intensa crónica intimista e um painel social pontuado por subtis alusões críticas.



Netzer filma com a câmara à mão, "colada" aos seus actores. Um dos trunfos principais do filme é mesmo a capacidade dos actores (sobretudo os excelentes Cavallioti e Postelnicu) aceitarem essa proximidade, num multifacetado jogo de rostos e gestos, revelações e ocultações — o realismo é também, aqui, uma arte de discutir as falsas evidências dos comportamentos humanos.

Com um pano de fundo muito marcado pelas componentes católicas da sociedade romena, o filme confere também especial importância à prática psicanalítica na vida do par (ambos seguem análises mais ou menos perturbantes). Enfim, longe de ser um "típico" filme de Verão, "Ana, Meu Amor" vem mostrar-nos que, nos contextos mais diversos, ainda há quem se interesse pelos paradoxos e contradições dos laços humanos.

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