Os actores de Thomas Vinterberg — um elenco de invulgar talento


joao lopes
26 Ago 2016 2:08

O título do novo filme do dinamarquês Thomas Vinterberg, "A Comuna", envolve, como é óbvio, uma calculada ironia. Isto porque não se trata de evocar a efémera experiência revolucionária da Comuna de Paris, em 1871, mas sim de colocar a acção numa espécie de rima simbólica (cerca de um século mais tarde), observando as atribulações de um grupo de adultos que decide construir um ideal comunitário numa casa em cuja gestão todos participam.

Há uma espécie de lógica paródica que serve para introduzir a acção — afinal de contas, numa das primeira reuniões (em que cada um vota de braço levantado), um dos temas a tratar é a administração do número de cervejas disponíveis na casa… O certo é que, a pouco e pouco, aquilo que parecia transparente e utópico vai sendo sujeito a uma dramática prova de real: ninguém parece ter pensado que as relações afectivas (e sexuais) não se deixam gerir por regras mais ou menos voluntaristas.



Através de uma desarmante frieza realista, Vinterberg vai construindo uma espécie de "reportagem" sobre este universo que, por assim dizer, se vê compelido a contemplar-se no espelho das suas empenhadas ilusões. Herdeiros das ilusões mais ou menos libertárias dos anos 60, as personagens de "A Comuna" descobrem que o destino é algo mais do que uma mera agenda de comportamentos.

De alguma maneira, Vinterberg regressa, assim, ao filme que o popularizou a nível internacional: "A Festa" (1998), realizado no âmbito do célebre movimento ‘Dogma’ (ou ‘Dogma 95’), arquitectado com vários companheiros dinamarqueses, incluindo Lars von Trier. Para ele, o essencial decorre da minuciosa atenção às diferenças e contradições dos comportamentos humanos, além do mais contando com um leque admirável de actores — Ulrich Thomsen, Tryne Dyrholm e Helene Reingaard Neumann são apenas alguns dos que nos levam a recordar que a mais nobre tradição escandinava passa, obviamente, pela arte de representar.

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