3 Set 2018 21:10
O Festival de Veneza tem sido uma montra de sucesso para o cinema do
mexicano Alfonso Cuarón, que venceu o prémio de argumento com o
filme "E a Tua Mãe Também" (2001), e recebeu o prémio de cinema
digital com "Gravidade" (2013), que viria a conquistar 7 Óscares da Academia.
Cuarón voltou ao festival com o primeiro filme que rodou no México em 18 anos, escolhendo Roma, um bairro da capital, como o local da ação .
O próprio realizador
assume que se trata de um projecto de cunho mais pessoal, feito a
partir de memórias, que retrata o período de cerca de um ano na vida
de uma família burguesa e da empregada Cleo, enquanto o Mexico, passa
por um terramoto e por convulsões sociais, com manifestações
estudantis violentamente reprimidas.
No centro do filme estão a casa, os seus ocupantes, e o papel das
mulheres no correr dos dias, enquanto zeladoras de uma certa
tranquilidade familiar. Apesar do divórcio dos senhores da casa e de
uma gravidez indesejada de Cleo, as rotinas não se alteram, como se
nada pudesse perturbar o ambiente dentro de portas.
A harmonia que Cuarón tenta captar, pode no entanto, ser uma
desvantagem para o filme, pela ausência de drama e conflito que
reduzem a história a quase nada.
Visualmente, Alfonson Cuaron aposta nos detalhes, demorando-se em
determinados planos e levando-nos a deambular habilmente pelos vários
compartimentos da casa, como se estivesse a contar uma história em
tempo real, e pela qual está notoriamente encantado.
A dimensão épica, os planos sequência prolongados, a fotografia a preto e branco, fazem de "Roma" um filme adquado para ser visto numa sala de
cinema do que através da plataforma Netflix.
A polémica em torno da plataforma
que tem procurado conquistar espaço nos festivais mais importantes da
Europa, parece não perturbar a crítica, que coloca "Roma" entre os
favoritos a vencer o Leão de Ouro.
Convém lembrar que nos últimos anos, Veneza tem mostrado alguns dos
filmes consagrados nos Óscares. O último exemplo é "A Forma da Água",
realizado pelo também mexicano Guilhermo Del Toro, que regressou ao festival este ano, na condição de presidente do júri.
  • Lara Marques Pereira
  • 3 Set 2018 21:10

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