Glenn Close e Jonathan Pryce — um elenco competente num filme convencional


joao lopes
21 Out 2018 0:47

Situação insólita: se não fosse a chamada temporada dos prémios, a desembocar nos Oscars (24 Fev. 2019), provavelmente não encontraríamos um filme como "A Mulher" a ter o destaque que tem obtido nas últimas semanas… De facto, tendo em conta o timing de recentes temporadas, os prémios têm sido maioritariamente atribuídos a títulos estreados no último trimestre de cada ano. Ora, "A Mulher", realizado pelo sueco Björn Runge, nem sequer é uma produção deste ano, uma vez que teve a sua primeira apresentação pública em Setembro de 2017, no Festival de Toronto…

Que aconteceu, então? O consumar de uma estratégia que, pelos vistos, está a dar resultados: o filme só chegou às salas dos EUA em Agosto de 2018, o que o torna elegível para Globos de Ouro, Oscars, etc. Na prática, o grande investimento promocional está concentrado em Glenn Close e na possibilidade de chegar àquela que seria a sua sétima nomeação para um Oscar de interpretação (que nunca ganhou) — a sua composição da mulher de um escritor (Jonathan Pryce) distinguido com o Nobel da literatura pode consumar tal possibilidade.




Insólito, sem dúvida. Desde logo, porque a interpretação de Close é apenas competente q. b., bem distante da complexidade das personagens que assumiu em "Atracção Fatal" (1987) ou "Ligações Perigosas" (1988), precisamente dois dos filmes que lhe deram nomeações na categoria de melhor actriz. Depois, porque "A Mulher" se limita a cumprir, com assinalável limpeza dramática, mas sem qualquer rasgo de originalidade, as regras de um telefilme convencional sobre uma crise conjugal — sabemos que algo de perturbante marca o trabalho daquele escritor, mas o filme pouco mais consegue do que gerar um esquemático "suspense" psicológico.

Fica, sobretudo, a consistência de um elenco em que encontramos também a talentosa Annie Starke, filha de Glenn Close e do produtor John H. Starke. E convenhamos que, em tempos de proliferação de tantos estereótipos digitais, sabe bem encontrar, pelo menos, um filme em que alguma vibração humana é visível nos rostos e gestos dos actores. Seja como for, tendo em conta tantas obras brilhantes mais ou menos secundarizadas na história dos Oscars, será, no mínimo, desconcertante encontrar "A Mulher" na linha da frente para os prémios do próximo mês de Fevereiro…

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