joao lopes
14 Abr 2017 1:35

O filme "Se Deus Quiser", de Edoardo Falcone, foi escolhido para encerrar a 10ª edição da Festa do Cinema Italiano. E há que reconhecer que foi uma opção carregada de simbolismo: aqui está, de facto, um objecto que, para além das suas limitações, reabre uma hipótese de ligação com uma das mais genuínas tradições do cinema italiano — a tradição da comédia.

Como muitos outros títulos da mesma área, também este começa por um facto mais ou menos anedótico: um cirurgião muito respeitado (Marco Giallini) é surpreendido pelo facto de o filho (Edoardo Pesce) anunciar à família que se quer tornar padre… Sendo o pai um homem ateu, sente necessidade de conhecer o sacerdote (Alessandro Gassman) que, segundo ele, "inspirou" o filho…

Toda a arte deste modelo de narrativas consiste em transfigurar as peripécias iniciais num tecido de atribulações que, através do humor, vai expondo as linhas de clivagem familiares e sociais. É bem verdade que "Se Deus Quiser" vai cedendo, por vezes, a algumas facilidades caricaturais; mas não é menos verdade que, apesar de tudo, preserva um grau de verosimilhança que nos aproxima de todas aquelas personagens.

Vale a pena lembrar que a Festa do Cinema Italiano deu também a ver uma pequena retrospectiva de filmes de Dino Risi (1916-2008), precisamente um dos autores que mais e melhor cultivou o género cómico em Itália. Mesmo considerando que Falcone está longe da sua subtileza, é bom saber que a herança de Risi (e de outros como Mario Monicelli ou Luigi Comencini) continua a marcar as opções de alguns cineastas contemporâneos.

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