Matt Damon na China — não um filme histórico, mas uma aventura espectacular e fantasista


joao lopes
16 Fev 2017 18:57

Figura nuclear da chamada Quinta Geração de cineastas chineses, Zhang Yimou (n. 1950) sempre foi reconhecido como o mais "ocidental" de todos eles. É certo que tem mantido uma notável atenção crítica às convulsões históricas do seu país, como o prova o recente "Regresso a Casa" (2014), um melodrama com a Revolução Cultural em pano de fundo. Seja como for, títulos como "Herói" (2002) ou "O Segredo dos Punhais Voadores" (2004) são empreendimentos enraizados em técnicas e efeitos espectaculares que, por certo, Hollywood não desdenharia.

Compreende-se, por isso, que ele surja agora a assinar "A Grande Muralha", filme de gigantesca dimensão — é a mais cara produção (150 milhões de dólares) já rodada na China — que envolve um objectivo fundamental: aproximar Hollywood e as estruturas de produção chinesas. Estamos perante um objecto nascido, no essencial, da aliança entre a Legendary Entertainment, sediada em Los Angeles, e o China Film Group, principal entidade estatal para o cinema.
Mais do que isso: assistimos a uma curiosa e motivadora fusão de elementos simbólicos. Por um lado, temos Matt Damon, uma das estrelas mais internacionals do cinema dos EUA, interpretando um aventureiro que, na companhia de um amigo (Pedro Pascal, de "A Guerra dos Tronos"), procura na China do século XI essa riqueza preciosa que era, na época, a pólvora; por outro lado, esta é uma aventura épica em torno da lendária Muralha da China, por certo uma das construções mais espectaculares em toda a história da humanidade.
Do encontro da personagem de Matt Damon com uma guerreira chinesa (Jing Tian), nasce não uma tradicional intriga romântica, antes uma aliança de ocidentais e orientais para enfrentar as figuras medonhas que, regularmente, tentam vencer a resistência dos exércitos imperiais e da própria Muralha. Dito de outro modo: esta não é uma evocação histórica, muito menos realista, mas sim uma aventura fantasiosa e fantasista encenada com uma exuberância tão grandiosa quanto contagiante.
Para os americanos, "A Grande Muralha" pode ajudar a consolidar a presença no mercado cinematográfico chinês (a crescer para se tornar o maior do planeta); para os chineses, esta é uma operação com tanto de diplomático como comercial. Na prática, é o espectáculo cinematográfico que fica a ganhar, convocando-nos para uma celebração de invulgar poder visual.

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