Emmanuelle Seigner e Eva Green — uma boa premissa dramática para um filme apenas competente


joao lopes
21 Dez 2017 23:08

Um novo filme de um cineasta que admiramos está "obrigado" a repetir aquilo que, precisamente, nos cativou em títulos anteriores com a sua assinatura?… É uma pergunta pueril e armadilhada. Claro que não, claro que podemos e devemos aceitar todas as variações que esse cineasta nos propõe. Mas como "esquecer" o que ele já fez antes? E como não comparar?

Digamos que somos levados a pensar em tudo isso quando deparamos com "A Partir de uma História Verdadeira" (apresentado, extra-competição, em Cannes), o filme que Roman Polanski realizou a partir do romance homónimo de Delphine de Vigan. Compreendemos a sedução que o realizador terá sentido face a esta relação entre uma escritora (Emmanuelle Seigner) e uma admiradora (Eva Green) que vai, literalmente, tomando conta de todos os aspectos da sua existência… Mas como não comparar os resultados com outras histórias de devoração emocional — "A Semente do Diabo" (1968), "Lua de Mel, Lua de Fel" (1992), etc. — que constam da sua filmografia?
Dir-se-ia que "A Partir de uma História Verdadeira" é menos um drama que evolui em direcção a algum desenlace e mais um conjunto de variações sobre uma premissa, obviamente sugestiva, mas que está longe de poder sustentar, por si só, o tempo narrativo de um filme (nesse aspecto, aliás, o filme parece repetir as limitações do próprio dispositivo que de Vigan criou para o seu livro).
Emmanuelle Seigner e Eva Green "encaixam" exemplarmente nas suas personagens e o filme vai sendo pontuado por detalhes de mise en scène que não deixam de reflectir a mestria de um olhar muito experiente. Seja como for, este parece ser um filme concretizado sem grande convicção, como se se tratasse apenas de experimentar um "jogo de escondidas" vivido por duas personagens — é um objecto competente, por vezes eficaz, aqui e ali com um sugestivo momento de suspense, mas também sem supresas e algo frustrante.

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