Callum Turner e Jeff Bridges — um jogo de afectos e descobertas


joao lopes
16 Nov 2017 19:26

Quem conhece Marc Webb? É verdade que dois dos filmes que realizou — "O Fantástico Homem-Aranha" (2012) e "O Fantástico Homem-Aranha 2" (2014) — gozaram de enormes campanhas promocionais, mas é duvidoso que isso tenha inscrito o seu nome no imaginário do consumo. É também verdade que a comédia romântica "(500) Days of Summer" (2009) já lhe tinha trazido muitos elogios, mas o filme não chegou às salas portuguesas…

Agora que Webb volta a dirigir uma pequena produção, "The Only Living Boy in New York", é duvidoso que o padrão se altere — pequena produção, quer dizer, escassa promoção… O que, convenhamos, é uma pena, quanto mais não seja porque o simples facto de estarmos perante um objecto que, serenamente, escapa às mais estafadas matrizes dominantes de espectáculo justifica que lhe demos um pouco da nossa atenção e disponibilidade.
Numa muito esquemática sinopse, podemos dizer que esta é a história de um jovem (Callum Turner) que encontra no seu novo vizinho, um escritor com problemas de álcool (Jeff Bridges), um inesperado confidente para a descoberta que o perturba: o seu pai, editor de prestígio (Pierce Brosnan), tem uma amante (Kate Beckinsale), ao mesmo tempo que a sua mãe (Cynthia Nixon) se afunda numa crise psicológica…
Mais do que o inesperado das peripécias, o que mais conta aqui é a capacidade de seguir as dinâmicas afectivas e sociais de um grupo de personagens que, ponto por ponto, vão escapando aos clichés com que, inicialmente, as podemos encarar. Através do brilhante argumento de Allan Loeb, Webb sabe gerir o seu competente elenco, de modo a colocar em cena uma série de mútuas descobertas, curiosamente pontuadas por duas populares canções.
A primeira dessas canções é a que dá o título ao filme: "The Only Living Boy in New York", do álbum final de Simon & Garfunkel, "Bridge of Troubled Water" (1970). A segunda, "Visions of Johanna" pertence a "Blonde on Blonde" (1966), de Bob Dylan. Dir-se-ia que a velha aliança de drama e música encontra, assim, uma bela concretização —   aqui ficam o registo sonoro da primeira e o teledisco da segunda.

+ críticas