Elliott Gould e Derek Jacobi — à procura da energia do romance original


joao lopes
29 Jul 2017 23:58

Apetece dizer que "A História do Amor" é, de facto, uma história muito antiga. Que é como quem diz: uma magnífico romance, intitulado, precisamente, "The History of Love", dá origem a um filme em que se sente, ponto por ponto, a subtileza da escrita a ser desperdiçada pelos lugares-comuns da encenação cinematográfica.

Publicado em 2005, o romance de Nicole Krauss é, de facto, um notável exercício literário (que viria a ser ditinguido com o Prémio Internacional William Saroyan). Através das memórias de Léo Gursky, a viver em Nova Iorque nos primeiros anos do século XXI, somos confrontados com a evocação da Polónia no começo da década de 1940, quando todas as famílias judaicas estão ameaçadas pelo processo de extermínio posto em marcha pelos nazis — mais do que uma evocação história, trata-se de um ziguezague emocional, uma espécie de reencenação centrada na perene verdade do impulso amoroso.



Acontece que o filme, realizado por Radu Mihaileanu (cineasta francês de origem romena), não confia na singularidade e energia do seu material dramático. Assim, quase todas as cenas parecem querer gerar um qualquer clímax, exuberante e gratuito, para mais sustentado por uma banda sonora redundante. Esta é, afinal, uma história de amor através da escrita — "A História do Amor" é o título do livro dentro do livro — que acaba reduzida às convenções de um telefilme competente, mas pouco inspirado.

O veterano Derek Jacobi lidera um elenco consistente — onde também encontramos Elliott Gould e Gemma Arterton —, mas não se pode esperar que os actores salvem aquilo que a "mise en scène" não consegue sustentar. Mesmo quando encontramos ainda uma réstea da vibração da escrita de Krauss, "A História do Amor" é um exemplo sintomático de um modo esquemático e académico de entendimento da relação cinema/literatura.

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