Hugh Jackman em


joao lopes
21 Ago 2021 1:25

Tempos houve, não muito distantes, em que a linguagem do marketing parecia ser um apêndice involuntariamente caricato, mas benigno, dos filmes — os respectivos profissionais deixaram mesmo de falar de "filmes", passando a preferir a palavra "produtos". Agora, a ideologia de tudo isso triunfou: em muitos casos, percebemos que o único objectivo palpável é montar "produtos" que finjam ser "filmes"…

"Reminiscência", escrito e dirigido por Lisa Joy (na sua estreia cinematográfica), é um desses "produtos". A saber: um objecto que vive, antes do mais, da ostentação de algumas referências emblemáticas, dos cenários futuristas à la "Blade Runner" até ao jogo cruzado de memórias da série televisiva "Westworld", de que Joy é criadora (em aliança com o marido, Jonathan Nolan).
Encontramos, assim, Nick (Hugh Jackman), "explorador da mente" num futuro mais ou menos próximo, numa altura em que as grandes cidades passaram a estar em parte submersas. O seu aparato técnico para confrontar os clientes com as respectivas memórias vai conduzi-lo a um abalo inesperado: Mae (Rebecca Ferguson) não é uma cliente qualquer, parecendo evocar qualquer coisa de trágico no passado do próprio Nick…

Em boa verdade, o filme que poderemos identificar como uma verdadeira reminiscência de "Reminiscência" será o magnífico "Strange Days / Estranhos Prazeres" (1995), de Kathryn Bigelow em que, nas vésperas do começo do século XXI, assistíamos a um contrabando de "gravações" capazes de permitir a cada um revisitar memórias mais ou menos recônditas…
Em "Reminiscência", as coisas complicam-se, já que o filme parece querer ser, de uma só vez, um "thriller" futurista e uma homenagem às componentes românticas da idade de ouro de Hollywood, tudo enredado na herança formal do género "noir". Digamos que são citações a mais e cinema a menos… De tal modo que o desesperado esforço para gerar mistério e suspense se vai esgotando no formalismo auto-complacente de um "produto" sem imaginação.

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