Vítor Norte e Paulo Pires em

1 Nov 2015 21:46

Nome fundamental do Cinema Novo português, autor do grande sucesso "Kilas, o Mau da Fita" (1981), José Fonseca e Costa faleceu na manhã do dia 1 de Novembro, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vitimado por uma pneumonia — contava 82 anos.


Três títulos emblemáticos poderão condensar os principais sentidos e valores da sua obra:

* O RECADO (1972) — Primeira longa-metragem de Fonseca e Costa. Através da história de uma mulher que procura notícias do homem amado, construía-se um melodrama enigmático que, subtilmente, remetia para os mecanismos de repressão do Estado Novo“; Maria Cabral, revelada em 1970 em “O Cerco”, de António da Cunha Telles, era a protagonista.

* KILAS, O MAU DA FITA (1981) — Uma comédia que parte de uma visão paródica de algumas convenções do policial para traçar o retrato de um “mau da fita” (Mário Viegas) que vai vivendo de pequenos golpes mais ou menos desastrados; é um dos maiores sucessos da história do cinema português e tem música de Sérgio Godinho (também actor no filme) — este é o “Fado do Kilas”, cantado por Lia Gama, intérprete da "Pepsi Rita".



* CINCO DIAS, CINCO NOITES (1996) — Adaptação do romance de Álvaro Cunhal (assinado com o pseudónimo de Manuel Tiago), retratando um episódio da resistência ao regime fascista; com Paulo Pires, Sinde Filipe e Vítor Norte, ilustra o empenho com que o seu realizador sempre se interessou pelos momentos mais críticos da história de Portugal, retratando-os entre o realismo e o artifício simbólico.
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Nascido no Huambo, Angola, a 27 de Junho de 1933, José Fonseca e Costa mudou-se para Lisboa em 1945. Ainda estudou Direito, mas a paixão cinéfilo levá-lo-ia a desistir do curso. Ganhou um concurso para assistente de realização em 1958, nos primórdios a televisão em Portugal, mas a PIDE impediu a sua entrada nos quadros da RTP — seria mesmo preso, por duas vezes, acusado de actividades de oposição à ditadura.

O seu envolvimento no meio profissional do cinema passou por um estágio, em Itália, num contexto de grandes transformações da produção italiana e, genericamente, das cinematografias europeias. Assim, foi assistente em “O Eclipse” (1962), o filme de Michelangelo Antonioni, com Monica Vitti e Alain Delon, que encerra uma admirável trilogia a preto iniciada com “A Aventura” (1960) e “A Noite” (1961) — eis o trailer da recente cópia restaurada.
 



Fonseca e Costa foi um dos nomes incontornáveis no movimento do Cinema Novo, tendo em particular integrado o Centro Português de Cinema, cooperativa que, graças ao apoio da Fundação Gulbenkian, desempenhou um papel decisivo na actividade cinematográfica da primeira metade da década de 70 ("O Passado e o Presente", de Manoel de Oliveira, e "O Recado" foram algumas das suas primeiras produções).

O seu primeiro filme pós-25 de Abril, “Os Demónios de Alcácer-Quibir”, é uma parábola sobre as raízes simbólicas da nossa história colectiva, questionando a presença dos seus “demónios” no presente. Na sua obra encontramos adaptações de escritores como David Mourão Ferreira (“Sem Sombra de Pecado”, 1983) ou José Cardoso Pires (“Balada da Praia dos Cães”, 1987).

Com um gosto particular pelas intrigas melodramáticas, rodou “A Mulher do Próximo” (1988), “O Fascínio” (2003) e “Viúva Rica Solteira Não Fica” (2006). Deixa em fase muito adiantada de rodagem o filme “Axilas”, baseado num conto de Rubem Fonseca, com produção de Paulo Branco.
  • cinemaxeditor
  • 1 Nov 2015 21:46

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