joao lopes
15 Out 2020 23:59

Não se pode dizer que o sueco Roy Andersson seja um cineasta incoerente. Na verdade, o seu novo filme, "Da Eternidade", é (mais) uma colecção de variações sobre um modelo retórico já aplicado em "Canções do Segundo Andar" (2000), "Tu que Vives" (2007) ou "Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência" (2014).

Na prática, que acontece? Não sendo propriamente um optimista, Andersson colecciona pequenos episódios, uns "realistas" (um exército derrotado que marcha numa paisagem gelada…), outros "transcendentais" (um par voa sobre uma cidade…), outros apelando à "metáfora" (a "Paíxão de Cristo" numa rua contemporânea…), todos eles unidos pela mesma constatação minimalista — a vida humana é absurda. E fica-se também com a sensação incómoda de que o olhar que aqui triunfa contempla esse absurdo como "coisa" mais ou menos desprezável…
 

Resta saber se tanto basta para construir uma obra que seja algo mais do que uma antologia de "clips" intermutáveis. Face a "Da Eternidade", dir-se-ia que todos os restos do niilismo "new age" encontrarão matéria em que se podem reconhecer, mas não parece que aconteça algo que supere a condição menor do cinema como "ilustração" de conceitos mais ou menos esparsos.

E, no entanto, importa reconhecer que Andersson é, obviamente, um hábil gestor dos recursos específicos de um estúdio de cinema. "Da Eternidade" volta a distinguir-se por um rigor cenográfico algures entre o real e o surreal, como se os sinais quase naturalistas que as cenas acumulam se fossem transfigurando em entidades mais ou menos fantásticas ou fantasistas.

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