Om Puri (à esquerda) lidera o elenco indiano de


joao lopes
17 Ago 2014 15:07

Provavelmente, podemos situar uma certa moda das histórias em torno da gastronomia a partir da produção dinamarquesa "A Festa de Babette" (1987), de Gabriel Axel (que era, aliás, um objecto de delicadas emoções). O certo é que, em anos recentes, em paralelo com muitos programas de televisão dedicados a cozinheiros mais ou menos dotados, têm proliferado os filmes que narram aventuras motivadas por deambulações de natureza gastronómica.

"A Viagem dos Cem Passos", com realização do sueco Lasse Hallström, é mais um exemplo dessa tendência, tendo como inspiração um best-seller assinado por Richard C. Morais. Tudo acontece em torno de uma família indiana que, na sequência de convulsões políticas no seu país que levam à destruição do seu restaurante, decide procurar restabelecer-se em França — ao abrirem um novo restaurante numa belíssima região rural, vão ter de enfrentar a rivalidade do restaurante que já existe do outro lado da estrada, a cem passos de distância…
Num registo de comédia romântica, o filme explora uma série de situações mais ou menos previsíveis (incluindo o namoro do filho mais velho da família indiana com uma cozinheira francesa que trabalha na concorrência…), apesar de tudo encenadas com um mínimo de competência profissional. Há que reconhecer, em particular, a consistência do elenco, liderado por Helen Mirren (no papel da severa, ma non troppo, proprietária da casa francesa) e Om Puri (lendário veterano do cinema indiano, naturalmente a interpretar o líder da família que chega a França).
Nos seus resultados, medianos e simpáticos, o filme ilustra uma estratégia de produção extremamente ambiciosa. Trata-se, de facto, do resultado de um processo de criação de alianças de Steven Spielberg com a indústria cinematográfica da Índia, de acordo com uma lógica fundada no reconhecimento de que a dinâmica financeira de Hollywood passa, cada vez mais, pelos mercados asiáticos. Assim, "A Viagem dos Cem Passos" nasce de uma coprodução da DreamWorks, de Spielberg, com a Reliance, um dos grandes conglomerados do cinema e das comunicações da Índia. Pormenor não secundário: a associação da Harpo Films, de Oprah Winfrey.

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