joao lopes
31 Jan 2016 23:23

O filme "Quatro", de João Botelho, não é exactamente uma novidade. De facto, passou no Doclisboa de 2014 (extra-competição). Em qualquer caso, ainda bem que pôde chegar às salas: sob o modelo tradicional do documentário "artes & letras", encontramos um belo exercício sobre as relações, tão directas quanto enigmáticas, das formas artísticas com os elementos naturais.

O dispositivo é muito simples. Botelho elegeu como tema o trabalho de quatro artistas portugueses, dois pares de irmãos: João Queiroz e Jorge Queiroz; Pedro Tropa e Francisco Tropa. Ao longo de quatro capítulos claramente delimitados (numerados de 1 a 4), deparamos com a fabricação de objectos em estreita ligação com os cenários de uma natureza que, por assim dizer, parece oferecer-se para ser recriada.
No fundo, Botelho consegue mostrar e demonstrar que o trabalho artístico não reproduz o que quer que seja; é antes uma produção de novas formas, ideias e emoções que nascem tanto da contemplação do mundo como da sua metódica e inventiva transfiguração. Nenhuma cedência à mediatização "pitoresca" da arte, nenhuma cumplicidade com o imaginário medíocre dos "famosos" — este é um filme sobre o trabalho.

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