Rachel Wise no papel de Deborah Lipstadt — refazendo as memórias do Holocausto


joao lopes
1 Abr 2017 0:45

A história do confronto jurídico entre Deborah Lipstadt e David Irving foi muito mais do que um processo de tribunal. Está em jogo, afinal, a preservação das memórias da Segunda Guerra Mundial e, muito em particular, do extermínio de seis milhões de judeus pelos nazis — "Negação" refaz esse confronto num registo didáctico capaz de nos fazer compreender as razões históricas e éticas que o enquadram.

Realizado por Mick Jackson, o filme parte do processo que Irving intentou contra Lipstadt, considerando que ela o tinha difamado, pessoal e profissionalmente, no seu livro "Denying the Holocaust", publicado em 1993. Na verdade, Lipstadt denunciou a atitude negacionista de Irving, tentando pela manipulação grosseira de alguns factos, negar que o Holocausto aconteceu.
Produzido com chancela da BBC, "Negação" apresenta como pilar essencial da sua estrutura um argumento escrito pelo dramaturgo e cineasta David Hare, um dos grandes narradores da cultura britânica nos séculos XX/XXI. De forma directa e concisa, trata-se de seguir um processo em que a reposição das provas sobre o Holocausto se cruza com a gestão pública do seu conhecimento.
Com Rachel Weisz e Timothy Spall nos papéis centrais, e ainda Tom Wilkinson interpretando o advogado de Lipstadt, este é mais um exemplo de uma tendência que podemos situar nos últimos anos, em particular depois desse filme notável que é "Lore" (2012), de Cate Shortland. A saber: trata-se de revisitar a herança da guerra para além dos clichés do próprio "filme de guerra" — vale a pena lembrar que "Negação" foi o filme que abriu a quinta edição da Judaica – Mostra de Cinema e Cultura.

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