Toni Servillo no papel do investigador — um policial que procura retomar uma tradição italiana


joao lopes
21 Abr 2018 0:07

Que cinema italiano?… Pois bem, tendo em conta os desequilíbrios do mercado português, vale a pena dizer que o simples facto de continuarem a estrear alguns títulos da produção de Itália é, em si mesmo, positivo. Recorde-se, aliás, a recente edição da Festa do Cinema Italiano como exemplo sintomático de uma presença que, com mais ou menos limitações, nos mantém em contacto com uma das mais importantes cinematografias europeias.

Pode dizer-se, aliás, que "A Rapariga no Nevoeiro", agora estreado, é também um objecto que procura manter outro tipo de contacto, com a própria memória histórica do cinema italiano e, mais especificamente, com a tradição do policial — trata-se de seguir os altos e baixos de uma investigação em torno do desaparecimento de uma jovem (numa noite de nevoeiro…).

Donato Carrisi surge, aqui, num triplo papel: autor do romance em que o filme se baseia, assina a respectiva adaptação e também a realização. E não há dúvida que, pelo menos numa aspecto, o filme mantém uma coerência obsessiva: trata-se de definir ambiências mais ou menos familiares que, a pouco e pouco, vão adquirindo componentes inquietantes, a ponto de o investigador, interpretado por Toni Servillo (protagonista de "A Grande Beleza"), entrar também na lista de suspeitos.

Infelizmente, a agilidade de Carrisi fá-lo menosprezar um factor fundamental. A saber: a construção do suspense. Em vez de gerir o tempo do seu filme de modo a exponenciar as tensões da acção, prefere lançar intempestivas surpresas (?), como se a dramaturgia fosse uma mera acumulação de efeitos mais ou menos imprevisíveis… É pena, quanto mais não seja porque "A Rapariga no Nevoeiro" é produto de uma conjuntura de produção com meios obviamente sofisticados.

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