joao lopes
28 Set 2018 23:03

Risco e consequência… Velho princípio das metodologias criativas. E não há dúvida que o filme "A Árvore", de André Gil Mata, segue tal princípio. A saber: assumindo o risco de encenar uma parábola existencial e política em cenários da Bósnia; aceitando a consequência de um dispositivo narrativo — apoiado em longos planos-sequência — que pode ser entendido como uma ostentação formal alheia aos desígnios da própria parábola que se quer sustentar.

Que acontece, então? Distinguido com o prémio de realização no IndieLisboa, "A Árvore" dá-nos a ver um tempo assombrado pela guerra, desembocando num diálogo entre um velho e uma criança, porventura o espelho um do outro. Ou como se diz na sinopse do filme: "Um homem e uma criança encontram-se debaixo de uma árvore à beira de um rio, compartilhando a mesma memória e um segredo. Encontram no outro a serenidade, o silêncio e o tempo que perderam na corrente."




Face à singularidade da proposta narrativa que encontramos em "A Árvore", podemos formular uma dúvida metódica, a meu ver esteticamente pertinente. Ou seja: será que estamos perante um tour de force formal que se basta a si mesmo, dispensando o peso específico das personagens? Ou essas personagens adquirem, de facto, a tal dimensão parabólica que os transfigura em símbolos vivos de uma Europa, centrada na Bósnia, mas vivendo uma crise global de identidade(s)?

Nesse ziguezague de interrogações, somos levados a reconhecer que os resultados ficam aquém do risco inicial do projecto. Em todo o caso, importa descobrir "A Árvore" — estamos perante um objecto que viaja entre um desejo português de filmar e a tristeza nocturna dos cenários da Bósnia, questionando-nos sobre a nossa condição de espectadores.

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