Catherine Spaak e Jean-Louis Trintignant — memórias de Itália, 1962

10 Abr 2020 0:07

Como muitas outras iniciativas de divulgação cinematográfica, a Festa do Cinema Italiano foi adiada: a 13ª edição desta mostra, prevista para arrancar no dia 1 de abril, será realizada em datas ainda por anunciar. Entretanto, a organização decidiu "transferir-se" para os canais de cabo (TVCine) e também uma plataforma de "streaming" (Filmin), com uma oferta muito diversificada.

Para lá das produções mais recentes (incluindo títulos que passaram em edições anteriores da Festa), vale a pena destacar a presença dos clássicos. E não apenas os mais óbvios, obviamente incontornáveis: Fellini, Antonioni… Um bom exemplo poderá ser "A Ultrapassagem" (1962), de Dino Risi, filme bem revelador das qualidades de um cinema genuinamente popular e anti-populista, dotado de um apurado sentido de crítica social.
Há, aqui, qualquer coisa de crónica "on the road", ainda que com componentes iniludivelmente italianas. Esta é a deambulação automóvel de um quarentão extrovertido e "conquistador" (Vittorio Gassman) e um estudante de Direito muito mais contido (Jean-Louis Trintignant)… A sua descoberta do país, em particular através das paisagens da Toscana, transforma-se numa irónica, por vezes dramática, odisseia de revelação e auto-revelação.
Risi, convém lembrar, foi um especialista de modelos narrativos tradicionais, capazes de funcionar como bisturi de uma Itália em cenários de aguda transformação. Daí que "A Ultrapassagem" seja um retrato crítico de um tempo de "libertação" de costumes em que, em boa verdade, todas as relações homens/mulheres estavam a ser alteradas. Gassman e Trintignant são magníficos na representação dessa encruzilhada, das suas ilusões e desilusões.
  • cinemaxeditor
  • 10 Abr 2020 0:07

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