Marlon Brando, Al Pacino e Francis Ford Coppola — rodagem de

5 Abr 2019 3:00

Celebrar o 80º aniversário de Francis Ford Coppola — nasceu a 7 de Abril de 1939, em Detroit, Michigan — não é, de modo algum, um gesto meramente simbólico para saudar um dos nomes fulcrais da história do cinema. Isto porque estamos a falar de alguém que, para além de ter pontuado as últimas seis décadas do cinema com títulos lendários — “O Padrinho” (1972), “Apocalypse Now” (1979), “Drácula de Bram Stoker” (1992), etc. —, está longe de ser um artista reformado.

Notícias recentes dão-nos conta da sua permanente e obstinada actividade. Assim, Coppola terminou aquela que passará à história como a versão definitiva de “Apocalypse Now”. Recorde-se que o filme foi apresentado no Festival de Cannes de 1979 ainda como um “work in progress” (o que não o impediu de arrebatar a Palma de Ouro, “ex-aequo” com “O Tambor”, de Volker Schlöndorff), existindo uma “versão longa”, lançada em 2001 com o título “Apocalypse Now Redux”. Agora, Coppola considera que pôde avaliar definitivamente os prós e contras de cada uma das versões, estando preparado para dar a conhecer a definitiva no Festival de Tribeca, em Nova Iorque (24 Abril/5 Maio). Além disso, em declarações a Mike Fleming Jr. (Deadline) deu conta que retomou o ambicioso projecto de “Megalopolis”, abandonado em 2001, na sequência dos atentados de 11 de Setembro — sabe-se muito pouco sobre as suas componentes, a não ser que a história envolve a criação de uma “utopia” no interior de Nova Iorque, tendo Jude Law sido contactado para um dos principais papéis.

Se há cineastas que justificam o epíteto de “revolucionários”, Coppola é, sem dúvida, um deles. Ele e os seus companheiros de geração — Robert Altman, Martin Scorsese, Brian de Palma, Paul Schrader, Peter Bogdanovich, etc. — transfiguraram de modo radical o universo temático e os conceitos de produção de Hollywood. E não deixa de ser interessante sublinhar que Coppola, tantas vezes associado apenas a filmes de meios gigantescos, tenha sido alguém que se formou em experiências de pequenas produções, típicas da chamada “série B”, como “Dementia 13” (1963), um filme de terror produzido por Roger Corman (também ligado, por exemplo, à primeira fase das carreiras de Scorsese ou Bogadnovich).




Isto sem esquecer que a sua excelência como realizador não basta para definir a singularidade do seu trabalho, uma vez que Coppola é, antes do mais, um argumentista — entenda-se: um extraordinário narrador (o que, naturalmente, não é separável das tarefas de realização). Aliás, o seu primeiro Oscar foi como argumentista e num filme que não realizou: ”Patton” (1970), de Franklin J. Schaffner, a biografia do general americano interpretado por George C. Scott.

Coppola viria a ganhar outro Oscar de argumento com “O Padrinho” (1972) sem, todavia, ser distinguido na categoria de realização (em que foi consagrado Bob Fosse, por “Cabaret”). Seja como for, “O Padrinho” é o momento chave do seu triunfo no sistema de estúdios de Hollywood, tendo obtido mais dois Oscars: melhor filme do ano e melhor actor, para Marlon Brando (prémio que Brando recusou). Dois anos mais tarde, com “O Padrinho – Parte II”, Coppola foi distinguido em três categorias: melhor filme (já que, desta vez, assumia também a função de produtor), melhor realizador e melhor argumento (partilhado com Mario Puzo).

 



O seu gosto pela experimentação levou-o a construir o seu próprio estúdio, American Zoetrope, lançando-se numa singular aventura de produção que quase o conduziu à falência, ao mesmo tempo que ficou como um momento memorável na evolução tecnológica e narrativa dos filmes: “Do Fundo do Coração” (1981), esse misto de melodrama, conto fantástico e musical (com canções de Tom Waits), é uma experiência tanto mais marcante quanto teve um papel pioneiro na integração de elementos de vídeo em todas as fases de produção. 

Para além dos filmes citados, eis mais cinco títulos da filmografia de Coppola que nos podem ajudar a descobrir um prodigioso universo criativo:

* O VIGILANTE (1974) — Por certo uma das mais admiráveis interpretações de Gene Hackman, no papel de um especialista em escutas que começa a suspeitar que o seu registo (sonoro) das vidas privadas pode envolver perigo de morte para as pessoas escutadas. A subtil apresentação de uma “sociedade da vigilância” arrasta perturbantes ressonâncias no nosso presente.

* JUVENTUDE INQUIETA (1983) — Na ressaca do falhanço comercial de “Do Fundo do Coração”, Coppola dirigiu duas pequenas produções sobre as convulsões juvenis, ambas baseadas em romances de S. E. Hinton: primeiro “Os Marginais” (1983), depois este “Juventude Inquieta” (“Rumble Fish”, no original). De uma deslumbrante intensidade poética, nele se cruzam a crueza da violência e a imaginação da utopia — com Mickey Rourke, Matt Dillon e Diane Lane.




* JARDINS DE PEDRA (1987) — Um retrato de uma estrutura militar americana em finais da década de 60, com a guerra do Vietname como dramático e perturbante pano de fundo. Com um elenco de luxo, incluindo James Caan, Anjelica Huston e James Earl Jones, será um dos títulos da filmografia de Coppola que mais e melhor e ilustra a sua filiação na escrita clássica de John Ford (1894-1973).

* TUCKER – O HOMEM E O SEU SONHO (1988) — Porventura o mais ignorado filme de toda a obra de Coppola, é um retrato épico de Preston Tucker (1903-1956), figura marcante na história da indústria automóvel dos EUA. Não por acaso, muitos viram na personagem central uma projecção directa do próprio Coppola e das atribulações do seu poder visionário — com Jeff Bridges numa das suas composições mais complexas e radicais.

* TWIXT (2011) — É, para já, a última longa-metragem de Coppola lançada no circuito comercial, objecto de inclassificável e fascinante gosto experimental. Nele se cruzam algumas referências do clássico filme de vampiros com variações narrativas (e visuais) tão inesperadas quanto sedutoras — com Val Kilmer, Bruce Dern e Elle Fanning.


  • cinemaxeditor
  • 5 Abr 2019 3:00

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