Renée Zellweger: reinventando o corpo e a voz de Judy Garland


joao lopes
12 Out 2019 4:38

Renée Zellweger é uma talentosa actriz que viu a sua imagem de marca e, mais do que isso, a sua carreira minada pela mediocridade "O Diário de Bridget Jones" (2001) e respectivas derivações. De tal modo que, numa fase crítica da sua evolução pessoal (nasceu há 50 anos, na cidade de Katy, Texas), consegue renascer através da magnífica interpretação de Judy Garland (1922-1969) no filme "Judy".

Convenhamos que nunca seria fácil evocar Garland, figura maior da idade de ouro de Hollywood, nome indissociável de títulos míticos como "O Feiticeiro de Oz" (1939), de Victor Fleming, ou "Não Há como a Nossa Casa" (1944), de Vincente Minnelli. Até porque a aposta de "Judy" arrisca muito para além do fausto dessas memórias — trata-se, afinal, de construir uma narrativa que, sem prescindir de alguns ziguezagues temporais (nomeadamente para a rodagem de "O Feiticeiro de Oz"), se centra no período final em que Garland protagonizou alguns dramáticos concertos em Londres.
Pois bem, Zellwegger consegue a proeza de compor a personagem de Garland, não apenas através de um impressionante trabalho realista de "reconstituição" do corpo da actriz (e da voz!), mas sobretudo expondo as tensões mais delicadas que nascem da relação da sua imagem pública com os bastidores da sua existência artística e familiar. Dito de outro modo: mesmo aplicando uma matriz tradicional de "filme-biográfico", a realização de Rupert Goold sabe respeitar a complexidade psicológica das relações que coloca em cena.
Filme de genuíno amor pelo cinema, "Judy" consegue, assim, contrariar as descrições pitorescas, por vezes anedóticas, da vida de uma star, afinal celebrando a importância de conhecer os protagonistas de Hollywood sem ceder a qualquer maniqueísmo ("pró" ou "contra"). E vale a pena repetir o que todos os analistas americanos garantem: Zellweger é, para já, a grande favorita ao Oscar de melhor actriz, a atribuir no dia 9 de Fevereiro de 2020.

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