Uma saga bíblica em que nem sequer as qualidades dos actores são devidamente aproveitadas


joao lopes
14 Dez 2014 23:23

Não há, infelizmente, nada de empolgante a dizer sobre "Exodus: Deuses e Reis", uma tentativa muito "pós-moderna" de refazer cinematograficamente a história bíblica de Moisés, forçando-a (?) a um realismo pueril que, em boa verdade, rasura por completo a dimensão de revelação e maravilhamento que lhe é inerente.

A aposta de Ridley Scott parece ter consistido mesmo em "delegar" na sua equipa de efeitos especiais a responsabilidade de criar cenários com enorme profundidade de campo que, em boa verdade, dispensam qualquer sentido dramático do espaço — e, por extensão, qualquer gestão dramatúrgica do tempo.
Um dos efeitos deste tipo de atitude é a sensação de desamparo em que descobrimos os actores — a começar, claro, por Christian Bale, condenado a encarnar um Moisés decorativo e unidimensional, a cujas convulsões emocionais o filme presta tanta atenção como uma vulgar "biografia" televisiva.
O caso de Joel Edgerton, no papel do faraó Ramsés, chega a ser patético, de tal modo "Exodus: Deuses e Reis" o reduz a uma pobre caricatura da imagem de Yul Brynner (no magnífico "Os Dez Mandamentos", de Cecil B. DeMille, lançado em 1956). Isto para não falarmos do desperdício que é ter actores como Ben Kingsley ou Sigourney Weaver sem tirar qualquer partido consistente das suas qualidades — em boa verdade, tratando-os quase como figurantes…

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