joao lopes
24 Nov 2016 23:06

Monges fixados nos seus telemóveis, porventura actualizando o Facebook ou colocando alguma frase no Twitter?… O filme "Eis o Admirável Mundo em Rede" (título original: "Lo and Behold, Reveries of the Connected World") não é uma colecção de apanhados, longe disso, mas é um facto que nos confronta com situações, no mínimo, desconcertantes. Dito de outro modo: a Internet mudou os circuitos informativos, mas também os comportamentos humanos.

Estamos perante um documentário que não é tanto de divulgação científica (mesmo se há nele muitos dados que enriquecem a nossa perspectiva sobre o mundo em rede), mas mais de interrogação da própria evolução da ciência — e do pensamento sobre a ciência. Somos mesmo conduzidos a formular esta pergunta: a Internet é um produto da nossa civilização, ou a porta de entrada numa nova civilização?




O realizador Werner Herzog, veterano do cinema alemão, com frequentes derivações pela produção de outros países — recorde-se o recente "Rainha do Deserto", com Nicole Kidman, coproduzido por EUA e Marrocos —, tem-se dedicado nos últimos anos a várias experiências de cariz documental. "Eis o Admirável Mundo em Rede" é, justamente, uma das mais recentes, no fundo chamando-nos a atenção para o facto de a mera acumulação de informação não constituir, por si só, um sistema sólido de conhecimento.

Seja como for, evitemos cair no exagero de supor que Herzog quer demonizar a Internet. Longe disso. Para ele, importa resistir à santificação do que quer que seja do mundo da tecnologia, na certeza de que os seus novos instrumentos desafiam os nossos limites, eventualmente enriquecendo as relações humanas — para que tal aconteça, é preciso não "naturalizar" o que é complexo, misterioso e, por vezes, recheado de humor.

+ críticas