joao lopes
8 Jun 2017 19:44

Cinema búlgaro? É verdade. Eis uma pequena cinematografia que conhecemos pouco, e mal, mas que ciclicamente emerge no panorama internacional. Aconteceu em 2014, com o filme "A Lição", de Petar Valchanov e Kristina Grozeva. Voltou a acontecer dois anos mais tarde com este "Glória" que, agora, chega ao mercado português — repetindo-se, convém sublinhar, a dupla de realizadores.

Curiosamente, um dos aspectos mais evidentes de "Glória" é a dimensão realista da sua visão do quotidiano, confirmando que, hoje em dia, essa dimensão é um factor transversal de muitas cinematografias. Aliás, se há uma dúvida principal que o filme da dupla Valchanov/Grozeva pode suscitar, ela decorre, precisamente, da "deslocação" desse realismo para um simbolismo algo simplista na encenação das diferenças sociais.
Seja como for, o mais importante é a capacidade de transformar um incidente numa interrogação crítica das estruturas de poder. Mais exactamente, esta é a história de um esquecido empregado dos caminhos de ferro que, um dia, nas suas tarefas de manutenção, encontra uma enorme quantidade de dinheiro… Ao devolvê-lo, a sua honestidade vai ser "premiada" por uma bizarra manipulação — o seu gesto serve, afinal, para tentar esconder um esquema de corrupção.
"Glória" é, evidentemente, um objecto profundamente céptico em relação às estruturas de poder, tendo a seu favor o facto de tratar as personagens (as principais, pelo menos) respeitando a sua complexidade afectiva e moral. Sem esquecer que tudo isso resulta, em grande parte, do labor de um elenco de actores obviamente talentosos, com destaque para o protagonista Stefan Denolyubov.

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