Mickey Rourke no mundo a preto e branco de Frank Miller


joao lopes
1 Set 2014 0:59

Nem só de super-heróis vive (ou morre…) o Verão cinematográfico. Frank Miller é, apesar de tudo, uma excepção — isto porque ele se mantém fiel ao seu próprio universo de histórias aos quadradinhos, voltando a adaptar o ambiente soturno, obsessivamente a preto e branco (aqui e ali, com uns toques de cor vermelha), da sua série "Sin City".

É pena que "Sin City: Mulher Fatal" pareça querer funcionar como uma espécie de síntese exaustiva, ou melhor, uma colagem das aventuras que Miller já criou neste tipo de ambiente visual. De facto, o filme mais parece um puzzle à procura da sua própria solução, lançando personagens e situações sem outra lógica que não seja a mera acumulação…
Ao mesmo tempo, importa reconhecer que Miller possui, pelo menos, uma visão mitológica daquilo que quer por em prática. Tal como em "Sin City: Cidade do Pecado" (2005), em que também partilhava a realização com Robert Rodriguez, encontramos aqui derivações do clássico filme noir, como se as personagens de Mickey Rourke (homem forte de todas as vinganças), Eva Green (a "mulher fatal" do título) ou Josh Brolin (o detective à procura de redenção) fossem derivações de figuras míticas já assumidas por actores clássicos como Humphrey Bogart, Lana Turner ou Robert Ryan.
Além do mais, registe-se o paradoxo: depois de tantos filmes em que a utilização do 3D se revelou totalmente gratuita, esta parte 2 de "Sin City" corresponde a uma elaborada consolidação das potencialidades das três dimensões. Ainda assim, é difícil não reconhecer que o essencial se joga — e jogará — sempre na velha arte de contar histórias: essa arte continua a ser o melhor dos "efeitos especiais"…

+ críticas