Peter Simonischek e Sandra Hüller — actores competentes num filme pouco inventivo


joao lopes
19 Fev 2017 19:29

Hoje em dia, muito cinema existe — e é consumido — não necessariamente através das especificidades cinematográficas, antes porque o filme A ou B consegue conquistar o rótulo de "acontecimento".

E não quero, com isto, sugerir qualquer juízo de valor automático sobre este ou aquele filme. Exemplo: "La La Land" e "Silêncio" suscitam-me entusiasmos muito diversos e, no entanto, isso não me impede de reconhecer que o respectivo impacto comercial envolve o facto de, cada um deles, se ter tornado um "acontecimento".

Evoco esta noção mediática para dizer que "Toni Erdmann" me parece ser francamente mais "acontecimento" do que… cinema. De facto, importa reconhecer que, desde a sua passagem no Festival de Cannes, o filme escrito e dirigido pela alemã Maren Ade, foi consolidando a sua condição de fenómeno emocional e mediático, a ponto de surgir nos Oscars — nomeado para melhor filme estrangeiro — como um dos grandes favoritos.
Desconcertante é o facto de "Toni Erdmann" ser um daqueles filmes que tenta sustentar uma considerável duração (162 minutos, para sermos exactos) a partir de um pretexto mais ou menos irónico cujas variações rapidamente se esgotam. Esta é, afinal, a crónica das atribulações de uma mulher (Sandra Hüller) que tenta garantir o seu melhor funcionamento profissional, sendo regularmente "interrompida" por um pai (Peter Simonischek) que, através das mais bizarras formas de humor, procura "conquistá-la" ou "protegê-la"…
Estamos, afinal, perante uma colagem de pequenas anedotas, mais ou menos sugestivas, obviamente sustentadas por actores de inequívoca competência profissional. Ao mesmo tempo, prevalece em "Toni Erdmann" uma lógica (tele)novelesca que se resume a uma acumulação de variações cada vez mais repetidas e repetitivas… Estranho "acontecimento", sem dúvida — o leitor terá mesmo de o ver para formular o seu legítimo ponto de vista (eventualmente distante deste que aqui fica expresso).

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