Um filme sobre girafas, ursos e outros habitantes da cidade de Lisboa


joao lopes
23 Nov 2019 12:16

É caso para dizer: se uma girafa incomoda muita gente, um urso incomoda muito mais… Que é como quem diz: está é a história insólita, desconcertante, provocatória e poética, de uma menina (Maria Abreu), de cognome "Girafa", que com o seu urso de peluche (Tonan Quito), vive aquele que será, talvez, o derradeiro capítulo da infância…

Para realizar "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas", Tiago Guedes partiu de um espectáculo teatral escrito e encenado por Tiago Rodrigues (Culturgest, 2011) construindo aquilo que talvez possamos designar como uma fábula relutante. Entenda-se: esta é a história de um universo artificioso em que há um urso que não pára de falar (para mais, aplicando o calão, frase sim, frase não…), ao mesmo tempo lembrando-nos sempre a verdade muito cândida dos cenários urbanos (lisboetas) em que tudo acontece.
O mínimo que se pode dizer é que estamos perante um inclassificável objecto de cinema, absolutamente solitário na actual produção portuguesa. E tanto mais quanto será normal que o espectador identifique Tiago Guedes "apenas" através da experiência melodramática de "A Herdade".
Sem recear integrar a teatralidade das situações e dos diálogos, aceitando os riscos e consequências de tal ambivalência expressiva, "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas" possui, afinal, uma interrogação visceral sobre as ilusões e as dores (e também a gratificação) de superar as fronteiras da infância. Como em todas as verdadeiras fábulas, essa é uma lição que vale a pena descobrir. 

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