5 Set 2014 0:36

Willem Dafoe nasceu para interpretar Pier Paolo Pasolini, o poeta, cineasta, ensaísta e agitador político, que continua a ser uma figura cultural controversa em Itália, quase 40 anos depois do seu assassinato brutal numa praia na periferia de Roma (a data será assinalada no próximo ano mas Ferrara não realizou o filme para marcar o momento).


É o ator à edida para um encontro de cineastas iconoclatas onde Ferrara aborda o derradeiro dia de Pasolini: o cineasta acabou de chegar de uma viagem à Suécia e está a definir uma estratégia para estrear “Salò ou 120 Dias de Sodoma” evitando os problemas com os censores.


O filme acompanha a rotina familiar: uma reunião para verificar a agenda, o almoço com a mãe (Adriana Asti) e o primo e secretário Graziella (Giada Cologrande), um encontro com a atriz Laura Betti (desempenho de Maria de Medeiros), e a conversa com o jornalista italiano Furio Colombo (Francesco Siciliano) que realiza aquela que seria a entrevista final de Pasolini, publicada no Corriere De La Stampa, sob o título, "Estamos todos em perigo."


É neste registo biográfico muito realista que é encenado o crime cometido na praia de Ostia, para onde Pasolini se dirigiu acompanhado por um rapaz que encontra na rua e onde foi

atacado de forma brutal por um grupo de jovens homofóbicos. Ferrara apresenta uma versão distinta daquela que Marco Tullio Giordana mostrou em “Um Crime à Italiana”, onde o parceiro sexual de Pasolini, Pino Pelosi, surgia como o único responsável pela sua morte.


O filme tem uma estrutura demasiado convencional, obedecendo a um roteiro de biopic que permite retratar Pasolini. Apenas existe um momento mais poético e formalmente mais transgressor, curiosamente protagonizado por Ninetto Davolli, um amigo de Pasolini e que participou em 11 filmes do cineasta.


Ele interpreta Epifanio no filme "Porno-Teo-Kolossal", que Pasolini não realizou. A sequência que Ferrara criou tem um ambiente felliniano, e mostra uma peregrinação terrestre, que o leva ao reino de Sodoma onde acontece uma orgia da fertilidade entre lésbicas e homossexuais.


O festival de Veneza acolheu "Pasolini" com particular indiferença mas valorzando o papel de Willem Defoe, uma composição serena onde o ator personifica Pasolini sem qualquer afetação particular. No entanto o desempenho é prejudicado pela utlização do inglês, uma opção que dá ao filme uma artificialidade própria de um pudim europeu.



No elenco destaca-se Maria de Medeiros: a atriz participa em duas cenas interpretando Laura Betti, uma amiga próxima de Pasolini. Um papel oportuno já que a atriz portuguesa prepara uma série de concertos onde irá introduzir canções que Laura Betti interpetou a partir de poemas de Pasolini.

 

  • cinemaxeditor
  • 5 Set 2014 0:36

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