Mais de vinte anos depois de


joao lopes
9 Jun 2015 23:20

… de facto, esta coisa de ter o nome de Steven Spielberg no genérico (como produtor executivo) não parece ser solução mágica para o equilíbrio interno de um filme.

É bem verdade que Spielberg, realizador de "Parque Jurássico" (1993) e "O Mundo Perdido" (1997), acompanhou a gestação do projecto de "Mundo Jurássico"… mas que fazer quando um filme nem sequer se interessa pela motivação primordial da sua própria história?

É o que acontece em "Mundo Jurássico", dirigido por Colin Trevorrow. Por um lado, há uma sugestiva ideia de partida: o parque de diversões com dinossauros já não é uma simples (?) celebração das maravilhas primitivas da mãe Natureza, mas um espaço de experimentação dos cientistas — foi criado um novo ser (Indominus Rex), uma espécie de derivação (ainda) mais monstruosa do T-Rex; por outro lado, a partir de certa altura vogamos no reino-do-tanto-faz, uma vez que a única preocupação parece ser a de colar "números" de um banal jogo de video.
E não se trata apenas de reconhecer que havia aqui uma sugestiva parábola completamente deitada à rua — veja-se, em particular, a definição do tratador dos Velociraptors, que começa por ser um militante ecológico que, em duas penadas, se transfigura numa espécie de "super-herói" a fingir de Indiana Jones (isto sem esquecer que o respectivo intérprete, Chris Pratt, constitui um caso patético de inexpressividade). Acontece que deixou também de haver qualquer programa narrativo para se privilegiar a mera acumulação de efeitos de "surpresa".
Vale a pena revisitar os filmes de Spielberg. Vale a pena, em particular, observar o modo como ele sabia definir o espaço e sustentar o tempo. Agora, o espaço é uma colagem de cenários virtuais a que falta qualquer consistência cenográfica e dramatúrgica. Quanto ao tempo, digamos que prevalece a lei da mais rasteira arbitrariedade… "Mundo Jurássico" é um exemplo de um cinema de pura instrumentalização tecnológica.
Enfim, é mesmo verdade que este modelo de indústria cinematográfica (ou de cinema industrial) corre o perigo da implosão — curiosamente, quem já teve o cuidado de chamar a atenção para esse perigo foi um senhor de nome Steven Spielberg.

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