Adam Bakri e Leem Lubany em


joao lopes
20 Jul 2014 0:17

De uma maneira ou de outra, todos temos consciência da complexidade trágica, historicamente incontornável, moralmente perturbante, das relações entre israelitas e palestinianos. Na agitação das notícias, muitas vezes confusas e superficiais, pressentimos as marcas de dramas que não se resolverão de forma linear e redentora.

Que pode o cinema fazer com isso? Ou através disso? A resposta implícita no filme palestiniano "Omar", de Hany Abu-Assad, tem tanto de contenção temática como de intensidade emocional — contenção porque nele se resiste a qualquer generalização a partir de "símbolos" supostamente universais; intensidade porque a história de Omar (Adam Bakri) e da sua procura de um lugar para existir implica, inevitavelmente, toda uma conjuntura de muitas tensões.
A situação narrada possui algo de thriller policial: na sequência do assassinato de um soldado israelita, Omar é visado como um possível suspeito; a pressão a que é sujeito leva-o a assumir o estatuto de "informador", ao mesmo tempo receando colocar em causa a luta dos seus companheiros militantes… Tudo isto enquanto, diariamente, salta o Muro da Cisjordânia, construído pelo Estado de Israel, para estar com a sua namorada, Nadia (Leem Lubany).
Em boa verdade, pode dizer-se que o tema fulcral de "Omar", sendo obviamente a violência de um quotidiano assombrado, será sobretudo essa sensação visceral, eminentemente física, de que nenhum espaço possui a quietude de uma genuína vida social — no limite, sentimos, momento a momento, cena a cena, uma ameaça que paira sobre as relações humanas, afectando todas as personagens.
Para além da sua subtil dramaturgia, e também do modo como nos faz perceber que ninguém possui soluções "mágicas", "Omar" tem sido um objecto com importantes resssonâncias internacionais, sobretudo a partir do momento em que passou no "Un Certain Regard", em Cannes, acabando por arrebatar o prémio do júri dessa secção. Depois, em Hollywood, "Omar" obteve uma nomeação para a Palestina na categoria de melhor filme estrangeiro.

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