Ronald Zehrfeld e Nina Hoss — memórias alemãs do fim da Segunda Guerra Mundial


joao lopes
18 Abr 2015 23:52

Reencontramos em "Phoenix" uma aliança — entre o realizador Christian Petzold e a actriz Nina Hoss — que já tinha sido decisiva em "Barbara" (2012). Neste caso, encenavam um drama situado na Alemanha de leste, na década de 80, num ambiente de perversa repressão dos seres humanos. Agora, são ainda os fantasmas da história alemã que regressam, mas no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial.

A tragédia íntima da personagem central, Nelly Lenz (Hoss), está literalmente inscrita no seu rosto: Nelly sobreviveu num campo de concentração, tendo ficado com o rosto desfigurado; a operação que faz dá-lhe novas feições, não sendo reconhecida pelos seus mais próximos, incluindo o marido Johannes (Ronald Zehrfeld). Mais do que isso: no clima de perseguição aos judeus, Johannes poderá ter sido aquele que a denunciou aos nazis…



Sustentado por uma exemplar direcção de actores, o trabalho de realização de Petzold envolve dois vectores complementares: por um lado, a odisseia de Nelly expõe-na à terrível tarefa de reencontrar um lugar (físico e emocional) para viver; por outro lado, o pano de fundo para tudo isso está longe de ser meramente decorativo, uma vez que surge marcado por uma teia de negações e traições inerente à reconstrução do próprio país.

Sem hesitar na afirmação de um realismo social e psicológico extremamente elaborado, "Phoenix" é, afinal, mais um título que ilustra a energia da vaga de obras sobre a Segunda Guerra Mundial (alemães e não só) que temos vindo a observar desde o lançamento de "Lore" (2013), de Cate Shortland. Muito para além das regras tradicionais do "filme-de-guerra", trata-se, agora, de observar os labirintos dos mais inusitados destinos individuais.

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