Chloë Grace Moretz e Denzel Washington: dramas da grande metrópole


joao lopes
26 Set 2014 2:31

A noção de "filme de acção" tornou-se um dos mais penosos lugares-comuns promocionais do cinema. Desde que haja alguma perseguição mais ou menos acelerada ou uma série de ruidosas explosões, então já temos "acção"…  De tal modo que a noção parece ter-se mesmo imposto como obrigação (?) comercial dos filmes mais variados, não poucas vezes diminuindo os talentos dos que neles participam.


"Sem Misericórdia" pode ser um esclarecedor sintoma, desde logo porque a colaboração entre Denzel Washington e o realizador Antoine Fuqua já gerou resultados bem mais consistentes — foi sob a direcção de Fuqua que Washington, em 2002, arrebatou um Oscar de melhor actor em "Dia de Treino".

Baseado numa série televisiva dos anos 80, também intitulada no original "The Equalizer", este é o retrato de um homem misterioso, Bob (Washington), que sob a capa de uma existência rotineira se comporta como um "vigilante" que protege personagens como a jovem Teri (Chloë Grace Moretz), envolvida numa rede de prostituição. Aquilo que começa como um estudo detalhado sobre as margens de uma grande metrópole acaba por se transfigurar numa antologia de convenções, não só mais ou menos previsíveis, mas também desmanchando a intensidade dramática da primeira parte de exposição do filme.

Os resultados são tanto mais paradoxais quanto, nessa primeira parte, o filme de Fuqua investe em valores cenográficos especialmente elaborados, em particular "copiando" algumas referências de quadros de Edward Hopper — veja-se, em particular, o modo como o restaurante em que Bob e Teri se encontram reproduz as linhas de composição do célebre "Nighthawks" (1942). É pena deparar com um tão sofisticado investimento criativo e, depois, com o seu enorme desperdício…

+ críticas