joao lopes
15 Out 2016 0:35

Em 2013, o italiano Gianfranco Rosi conseguiu uma proeza invulgar: o seu documentário "Sacro Gra" foi o primeiro a arrebatar o Leão de Ouro na longa história do Festival de Veneza. O tema era o dia a dia das pessoas que vivem nas imediações da auto-estrada que circunda a cidade de Roma. Agora, com "Fogo no Mar", o ambiente é bem diferente: trata-se de mostrar a chegada dramática de muitos refugiados à ilha de Lampedusa, ao largo da Sicília.

Mais uma vez, Rosi conseguiu um prémio importantíssimo: no passado mês de Fevereiro, "Fogo no Mar" recebeu o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Dir-se-ia que o impacto do seu trabalho resulta da mais universal das opções: o documentário é sempre entendido como uma amostragem das atribulações de personagens singulares.
Assim acontece em "Fogo no Mar". O salvamento dos que se lançaram ao Mediterrâneo, em frágeis embarcações, é mostrado de forma directa e esclarecedora, sem sensacionalismos (em nome de quê?) nem generalizações fáceis; em paralelo, conhecemos as rotinas e inquietações de alguns habitantes de Lampedusa, a começar pelo admirável Samuele, um rapaz fascinado pela vida dos pássaros.
Deparamos, assim, com uma narrativa documental que talvez possamos classificar como uma derivação jornalística. No sentido mais depurado que tal classificação pode envolver: para Rosi, a espessura dos factos é essencial, sem qualquer cedência a "simbolismos" fáceis. Ou seja: o cinema dá-nos a ver situações que conhecemos de muitos jornais televisivos, mas agora com outra densidade informativa e uma tocante verdade humana. 

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