Ian McKellen em


joao lopes
25 Jul 2015 23:38

São muitas, e necessariamente muito variadas, as adaptações de Sherlock Holmes produzidas ao longo da história do cinema (e da televisão, convém não esquecer). De uma maneira geral, procuram fundamentar-se em elementos inerentes à escrita de Arthur Conan Doyle. O caso de "Mr. Holmes" é uma das excepções, tendo como ponto de partida o romance " A Slight Trick of the Mind", de Mitch Cullin (entre nós editado como "Sr. Sherlock Holmes").

O que muda não é tanto a identidade da personagem — Holmes continua a surgir-nos como um apaixonado da lógica, apostado em compreender todos os comportamentos humanos em função de complexas relações de causa a efeito —, mas sim o contexto da sua existência. De facto, desta vez, já não se trata do elegante detective de cachimbo (diz mesmo que prefere os charutos), mas sim de um homem de 93 anos que abandonou todas as formas de exposição pública.



Em boa verdade, "Mr. Holmes" é um filme sobre o envelhecimento e a pesada, ainda que difusa, herança das memórias de toda uma vida. Afinal de contas, Sherlock Holmes descobre-se assombrado pelo enigma do seu derradeiro caso, popularizado pela escrita do seu amigo John H. Watson, mas de facto nunca resolvido…

O realizador Bill Condon gosta deste tipo de mistérios em que, por assim dizer, o protagonista é desafiado a discutir a própria imagem que criou (ou dele outros criaram) para o exterior. Já o tinha feito em 1998, em "Deuses e Monstros", dirigindo Ian McKellen no papel de James Whale (realizador do primeiro "Frankenstein"); Condon e McKellen reencontram-se em "Mr. Holmes" e o mínimo que se pode dizer é que há neles um subtil entendimento sobre a dialéctica do que se mostra e do que permanece oculto — este é, afinal, um filme sobre a convivência com a dimensão secreta dos seres humanos.

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