Uma imagem de Godard — rever e reescrever a história de Sarajevo


joao lopes
13 Nov 2014 22:44

Com os seus 13 episódios assinados por outros tantos cineastas, "Pontes de Sarajevo" não será o mais equilibrado dos filmes. Seja como for, quando teve a sua estreia mundial no Festival de Cannes, não pôde deixar de desencadear um misto de reconhecimento e perplexidade: aqui temos, afinal, uma antologia de retratos, não apenas de uma cidade nuclear na história da Europa, mas de uma cidade que, num certo sentido, nos convoca para a própria ideia de Europa.

As propostas são muito variadas e vão desde o intimismo da portuguesa Teresa Villaverde ("Sara e a sua Mãe") até ao jogo de sobreposições do ucraniano Sergei Loznitsa ("Reflexos"), passando pelo misto de burlesco e drama da franco-suíça Ursula Meier ("Silêncio Mujo"). Afinal de contas, desde o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, a 28 de Junho de 1914, precipitando o início da Primeira Guerra Mundial, até à guerra da Bósnia (1992-95), Sarajevo é uma cidade em cujo corpo — a começar, justamente, pelas suas pontes — se inscrevem algumas das convulsões mais radicais do continente europeu.
Viver e morrer em Sarajevo — podia ser esse o subtítulo do filme. Daí o inevitável destaque para o episódio "A Ponte dos Suspiros", assinado por Jean-Luc Godard. De alguma maneira retomando o seu admirável "Je Vous Salue, Sarajevo" (1993), construído a partir de uma fotografia de guerra [ver aqui em baixo], Godard relança a(s) história(s) da cidade num turbilhão de factos e assombramentos, imagens e palavras, em que as próprias ideias de Cultura e Arte discutem a sua pertinência e limites — o cinema pode ser, de facto, um instrumento de permanente reavaliação do nosso lugar na história.

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