Irrfan Khan, recebendo a


joao lopes
1 Mai 2014 0:59

Cinema indiano?… Por um lado, somos levados a pensar, de imediato, nas comédias musicais mais típicas da produção de Bollywood; por outro lado, como não evocar o tempo em que, apesar de tudo, a produção da Índia ia sendo descoberta nas salas portuguesas, mantendo-nos ligados ao trabalho de mestres como Satyajit Ray (1921-1992)?

"A Lancheira", longa-metragem de estreia de Ritesh Batra, surge, antes de tudo o mais, como uma excepção, eventualmente capaz de contrariar a regra de "apagamento" da produção indiana no mercado português. Aliás, não simplifiquemos e lembremos que se trata também de um caso invulgar noutros mercados. Razões para isso? Por certo os vários prémios acumulados pelo filme no circuito dos festivais, mas também o poder universal da sua história.
Tudo se passa entre duas personagens distantes: uma mulher, Ila (Nimrat Kaur), que todos os dias envia o almoço para o marido através do distema de distribuição de lancheiras de Mumbai; um homem, Saajan Fernandes (Irrfan Khan), que recebe por engano a lancheira destinada ao marido de Ila… A partir daí, através de sucessivos bilhetinhos, vai construir-se uma relação entre Ila e Saajan que não pertence, em rigor, a um tradicional triângulo amoroso — é, acima de tudo, uma relação de descoberta e mútua revelação.
O maior mérito do trabalho de realização de Batra decorre da sua metódica atenção às singularidades das suas personagens. Mesmo que nelas possamos pressentir as marcas de um sistema social específico — especificamente sustentado por uma clara demarcação das zonas do masculino e do feminino —, Ila e Sajaan existem sempre como seres humanos de fascinante irredutibilidade. Daí o poder universal desta contida história de amor.

+ críticas