Mike Nichols, em 1996, na companhia de vários actores de

20 Nov 2014 14:00

Figura maior do teatro americano nas décadas de 1950/60, Mike Nichols estreou-se no cinema precisamente com a adaptação de uma peça, de Edward Albee, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1966). O seu falecimento, a 19 de Novembro, foi anunciado por James Goldston, presidente da ABC News — Nichols completara 83 anos no passado dia 6.

Quando dirigiu “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, Nichols era já um nome consagrado no meio do teatro e, em geral, do entertainment. Ainda como actor, a sua dupla cómica com Elaine May valera-lhe, em 1961, um Grammy para melhor álbum de comédia. Entretanto, como encenador, recebera já um Tony, pela direcção da peça “Descalços no Parque”, de Neil Simon.

“Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” e “A Primeira Noite” (1967), este uma parábola sobre conflitos de gerações e a descoberta da sexualidade — com Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katharine Ross —, rapidamente impuseram Nichols como um dotado director de actores. No primeiro caso, o filme valeu Oscars a Elizabeth Taylor (actriz) e Sandy Dennis (actriz secundária), além de mais três em categorias técnicas, na altura ainda específicas dos filmes a preto e branco (fotografia, cenografia, guarda-roupa). “A Primeira Noite” deu a Nichols um Oscar de realização, o único que ganhou — recebeu-o das mãos de Leslie Caron.



Mesmo com inevitáveis altos e baixos, a filmografia de Nichols acabou por reflectir uma invulgar versatilidade, desde “Reacção em Cadeia” (1983), com Meryl Streep e Cher, evocação dramática de uma situação verídica de contaminação dos trabalhadores de uma fábrica de tratamento de plutónio, até “Casa de Doidas” (1996), com Robin Williams, Nathan Lane e Gene Hackman, deliciosa comédia burlesca que adaptava a contexto americano o grande sucesso francês “A Gaiola das Malucas” (1978).

Na sua filmografia podemos encontrar ainda exemplos tão contrastados como: o drama de guerra, “Artigo 22” (1970), a partir do romance de Joseph Heller; a comédia sobre os bastidores da indústria cinematográfica, “Recordações de Hollywood” (1990), segundo a autobiografia de Carrie Fisher; e ainda e sempre a recriação do teatro, “Perto Demais” (2004), adaptando a peça de Patrick Marber, com Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen.

Em qualquer caso, a importância histórica e a riqueza temática do seu labor é também indissociável de um momento fulcral na história moderna da televisão: a série “Anjos na América” (2003), baseada na peça de Tony Kushner, sobre os anos 80 e a descoberta da sida — eis o trailer da HBO.



O derradeiro filme dirigido por Nichols, “Jogos de Poder” (2007), com Tom Hanks, Julia Roberts e Philip Seymour Hoffman, lidava com a história verídica de um congressista do Texas envolvido em manobras duvidosas no cenário bélico do Afeganistão. Manteve-se sempre ligado ao mundo do teatro, dirigindo uma nova encenação de “Morte de um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, em 2012, trabalho que lhe valeu mais um prémio Tony. Em 2010, tinha sido homenageado pelo American Film Institute — este foi o seu discurso de agradecimento.

 
  • cinemaxeditor
  • 20 Nov 2014 14:00

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