joao lopes
3 Set 2016 20:33

Quem se lembra de Jerzy Skolimowski como uma personalidade decisiva da "nova vaga" polaca, a par de Roman Polanski, e em boa verdade de toda a renovação do cinema europeu ao longo da década de 60? Onde estão (por exemplo, no mercado do DVD) títulos tão importantes como "Walkower" (1965) ou "Deep End" (1970)?

Neste nosso séc. XXI, Skolimowski estava praticamente desaparecido, até que regressou com um título produzido pelo português Paulo Branco: "Quatro Noites com Anna" (2008). Seguiu-se "Essential Killing – Matar para Viver" (2010) e, agora, este fabuloso "11 Minutos", produção de raiz polaca que, em qualquer caso, contou com uma importante contribuição irlandesa (com algumas cenas rodadas em Dublin).
Há no cinema de Skolimowski uma tentação do absurdo que se exprime através de dois vectores fundamentais: por um lado, uma desencantada visão dos comportamentos humanos; por outro lado, uma observação clínica das relações entre as personagens, sempre assombrada pela sensação de que nada pode cimentar qualquer troca ou cumplicidade.
"11 Minutos" é um filme marcado por essa visão, construido a partir de um desafio extremo, para não dizer extremista: trata-se de preencher a duração normal de uma longa-metragem (um pouco menos de 90 minutos), encenando um leque de eventos cruzados que duram apenas 11 minutos… Como se o tempo, também ele, fosse uma medida inapelavelmente absurda.
Arquitectando uma dança de peripécias em que o tempo se expande e contorce, Skolimowski consegue a proeza de fazer também um filme sobre a decomposição das relações afectivas e sociais em que, em última instância, cada um só tem a sua solidão para partilhar com os outros — uma experiência fascinante em que o cinema desafia os seus próprios limites existenciais.

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