Timothy Spall no papel de J. M. W. Turner — prémio de interpretação masculina em Cannes


joao lopes
27 Dez 2014 14:11

Quase se podia definir como um sub-género da história dos filmes: existe, de facto, um "cinema-sobre-a-pintura" que tem marcado os mais diversos períodos da produção de muitos países. Para nos ficarmos por alguns dos mais notáveis exemplos, lembremos os retratos íntimos que são " A Vida Apaixonada de Van Gogh" (1956), de Vincente Minnelli, e "Van Gogh" (1991), de Maurice Pialat, ou ainda essa colisão formal de imagens que Jean-Luc Godard encena no genial "Paixão" (1982).

O projecto de "Mr. Turner", de Mike Leigh, sobre os anos finais do grande paisagista inglês J. M. W. Turner (1775-1851), envolve duas componentes tradicionais da biografia artística: em primeiro lugar, uma abordagem psicológica das vivências da personagem central; depois, uma contaminação do próprio filme pelas características estéticas — em particular cromáticas — do universo do pintor.
Tal ajudará a explicar, como é óbvio, a importância de duas componentes de "Mr. Turner": a composição, ao mesmo tempo vibrante e contida, de Timothy Spall na figura de Turner e o minucioso labor desenvolvido pelo director de fotografia Dick Pope — aliás, foram ambos distinguidos no palmarés do Festival de Cannes.
Dito isto, talvez seja inevitável acrescentar que, no seu fausto de produção, "Mr. Turner" é também um objecto que, em última instância, se satisfaz com o cumprimento das tarefas mais ou menos "ilustrativas" de um normal telefilme biográfico. Não vem daí grande mal ao mundo, mas há mais energia e, creio, mais riqueza emocional no Mike Leigh de filmes "ligeiros" como "Um Dia de Cada Vez" (2008) ou "Um Ano Mais" (2010).

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