Rodagem de


joao lopes
10 Set 2016 3:13

Desde a sua estreia na realização, com "Kids/Miúdos" (1995), Larry Clark tem-se afirmado como um autor tão metódico quanto obsessivo. De facto, desde esse começo tardio (Clark nasceu em 1943), não tem deixado de fazer filmes que, de uma maneira ou de outra, lidam com as convulsões mais íntimas de uma juventude desamparada e auto-destrutiva.

Em boa verdade, o seu cinema nasce da sua actividade fotográfica, mais precisamente do livro "Tulsa" (1971), uma crónica de alguma juventude da sua cidade natal e, em particular, da sua dependência de drogas. Dando um salto no tempo, pode dizer-se que o filme de Clark que agora nos chega, "O Cheiro de Nós" (título original: "The Smell of Us"), é um prolongamento directo de "Tulsa".
Com a particularidade de, desta vez, o cineasta americano filmar em Paris, concentrando-se no dia a dia de rotinas mais ou menos promíscuas de um grupo de "skaters" que têm o habito de se reunir na zona do Museu de Arte Moderna… O consumo de drogas, a par de uma sexualidade vivida de modo automático e instrumental, transforma-os numa espécie de párias sociais, em que já nem sequer funciona a relação familiar com as gerações mais velhas.
Dito de outro modo: Clark continua a ser um pilar de um realismo cru, obstinado e intransigente, em que um certo sentimento de "reportagem" vai a par de uma ficção elaborada nos seus mais pequenos detalhes. Tão marginal é o seu trabalho que este filme notável, apresentado em competição em Veneza/2014, só agora surge ao mercado português — a boa notícia é que surgiu mesmo, já que nos EUA não chegou a estrear.

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