Guillaume Gallienne (ao centro) no filme que ele próprio dirigiu: uma comédia sobre a sexualidade


joao lopes
13 Jun 2014 0:37

Apesar de todas as limitações que continuam a existir na difusão de diversas cinematografias europeias, é um facto que, apesar de tudo, mantemos uma relação regular com obras importantes da produção francesa. Mais do que isso: com uma percentagem significativa de títulos na área da comédia. Seja como for, "A Mamã, os Rapazes e Eu" constitui um pequeno grande acontecimento, já que se trata de um filme genuinamente inesperado.

De onde vem a surpresa? Pois bem, do próprio dispositivo que o realizador Guillaume Gallienne coloca em marcha. Esta é a história de um dos três filhos de uma família que, de forma mais ou menos ostensiva, vive, dentro e fora da família, a sua condição homossexual… Com um pequeno detalhe: é que Guillaume (a personagem tem o mesmo nome próprio) comporta-se assim porque a sua mãe acha que ele é… homossexual.
O humor, tão cândido quanto desconcertante, nasce desse misto de "obrigação" e "resistência": Guillaume é alguém que, estando empenhado em "expor" a sua identidade sexual, em muitos aspectos não se reconhece na imagem que projecta para os outros. No fundo, a sua aventura consiste em encontrar maneira de viver a sexualidade — seja ela qual for — sem estar compelido a "provar" o que quer que seja.
"A Mamã, os Rapazes e Eu" evolui, assim, como uma verdadeira experiência de uma certa teatralidade social, recheada de máscaras e revelações. Porque Guillaume tenta desempenhar bem o seu "papel" e, mais do que isso, porque o realizador conservou uma certa organização teatral, em que o protagonista é, de uma só vez, o narrador e o intérprete das suas próprias atribulações.
É um verdadeiro one-man-show, já que o talento de Guillaume Gallienne lhe permite dirigir o filme, interpretar dois papéis — é verdade: Guillaume e… a própria mãe —, e ainda assinar o argumento (que, por sua vez, se inspira numa peça de sua autoria). Os cinco Césares que ganhou são a prova disso mesmo, incluindo duas distinções raramente acumuladas: a de melhor primeiro filme e a de melhor filme francês de 2013.

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