Em 1966, com


joao lopes
27 Set 2014 0:56

Numa altura em que tanto se fala de realismo(s) nos mais diversos contextos cinematográficos, a reposição de nada mais nada menos que seis filmes do mestre indiano Satyajit Ray (1921-1992) envolve uma actualidade suplementar: de facto, para além da invulgar depuração do seu universo formal, ele foi um exigente realista, especialmente empenhado em dar conta dos movimentos interiores da sociedade do seu país.

A família e o espaço conjugal terão sido os universos essenciais da filmografia de Ray. Isso mesmo se pode observar nos dois títulos mais antigos agora repostos, sem dúvida também os mais conhecidos: "A Grande Cidade" (1963) e "Charulata" (1964). Este último, encenando a atracção amorosa que se desenha entre uma mulher e um primo do seu marido possui uma energia tanto mais peculiar quanto a aproximação dos protagonistas se desenvolve a partir de uma mesma atracção pelos livros e pela escrita literária.
O filme mais recente, "O Deus Elefante" (1979), o único fotografado a cores, pode servir de sintoma de um gosto de comédia e aventura a que Ray também nunca foi estranho: trata-se mesmo da adaptação de um dos seus livros centrados na personagem de Feluda, um detective a meio caminho entre a racionalidade e a ironia.
De comédia e farsa deveremos falar também a propósito dos restantes três filmes, porventura os mais raros deste conjunto e, por isso mesmo, mais surpreendentes. São eles: "O Santo" (1965), sobre um oportunista que se apresenta como uma figura divina; "O Cobarde" (1965), explorando os dramas íntimos de um argumentista de cinema; enfim, "O Herói" (1966), retratando um actor/vedeta que questiona a sua própria popularidade — este último serve também de exemplo da atitude crítica de Ray em relação aos artifícios e ilusões que a indústria cinematográfica pode envolver.

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