Benedict Cumberbatch (ao centro) no papel de Alan Turing: uma grande composição num filme académico


joao lopes
15 Jan 2015 1:25

Será que Benedict Cumberbatch vai ganhar o Oscar de melhor actor pela sua interpretação em "O Jogo da Imitação"?

A pergunta envolve qualquer coisa de incómodo… Não porque Cumberbatch ele não seja brilhante na composição do matemático Alan Turing (1912-1954). Antes porque, com o passar dos anos, a chamada temporada dos prémios se foi tornando uma espécie de concurso televisivo de "talentos" em que as previsões/antecipações tendem a deixar de fora a discussão e o prazer dessa coisa não desprezível neste contexto que dá pelo nome de… cinema.

É verdade — Cumberbatch, que já vimos a fazer de Sherlock Holmes e já ouvimos a dar voz ao dragão de "O Hobbit", é um actor de metódico rigor, devolvendo-nos um Turing cientificamente genial (foi ele que decifrou os códigos das transmissões dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial, assim ajudando a salvar muitos milhares, ou mesmo milhões, de pessoas), ao mesmo tempo marcado por um processo de cruel "regeneração" no sentido de combater a sua homossexualidade (num contexto em que, convém não esquecer, a homossexualidade era proibida por lei).
O certo é que "O Jogo da Imitação", realizado por Morten Tyldum (um norueguês a trabalhar no cinema inglês e americano), não pode ser globalmente confundido com o trabalho do seu actor principal. Dito de outro modo: estamos perante um cinema preguiçosamente instalado nas convenções do telefilme, encenando com uma competência vistosa, mas académica, uma matéria individual e histórica que apelava a outro fôlego narrativo — nesta perspectiva, este é um objecto que "duplica" o efeito formatado de filmes como "O Discurso do Rei" (2010), Oscar de melhor filme no ano de… "A Rede Social"!!!
Fica, por isso, essa interrogação curiosa e desconcertante: porque é que, em época de Oscars, a "normalidade" televisiva encontra sempre um lugar para se manifestar no interior daquilo que é, para todos os efeitos, uma celebração cinematográfica?
Digamos que "O Jogo da Imitação" desemboca nesse paradoxo que, em última instância, para o melhor ou para o pior, define áreas significativas da actual produção audiovisual: por um lado, esgota-se no simplismo dramático-ilustrativo da mais primitiva norma televisiva; por outro lado, apesar de tudo, cria espaços de expressão para actores talentosos como Benedict Cumberbatch.

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